I SÉRIE — NÚMERO 13
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Pela valorização do ensino da história da emigração portuguesa (PS), 877/XIII (2.ª) — Pela criação de um museu
nacional da emigração (PS), 1083/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a criação de um centro nacional de
documentação sobre a emigração portuguesa (PSD) e 1096/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a melhoria dos
instrumentos de análise e avaliação da situação dos emigrantes portugueses (CDS-PP).
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Pisco.
O Sr. Paulo Pisco (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A história de Portugal pode também muito
bem ser contada através da história da sua emigração. As muitas gerações de portugueses que um dia
emigraram merecem que Portugal as honre contando a sua história, sem tabus nem complexos. Que sejam
contadas as suas aventuras, medos e angústias, sucessos e fracassos, as suas descobertas e as suas ações,
que mostrem como a decisão de emigrar transformou o País e os países que os acolheram nos quatro cantos
do mundo.
A emigração portuguesa tem de deixar de ser a grande ausente da história, como refere Victor Pereira,
historiador na Universidade de Pau. E precisa de ser valorizada e dignificada, libertada de preconceitos e de
sobranceria, porque é parte integrante da nossa história coletiva e da nossa identidade. A criação de um museu
nacional da emigração, ou da presença portuguesa no mundo, como se lhe queira chamar, e o ensino da história
da emigração nas escolas têm uma função pedagógica complementar essencial para que a sociedade e as
instituições possam conhecer e compreender um fenómeno que a todos diz respeito e que a todos deve
mobilizar, no País e nas comunidades.
Um museu nacional da emigração deverá ser um lugar de cultura e de turismo, um espaço aberto às escolas,
moderno e interativo e ligado em rede a outras instituições congéneres, em Portugal e no mundo. Deverá ser
um lugar de debate, reflexão e investigação, portanto, a carecer de um centro de documentação, como, aliás, já
existiu no tempo do Secretário de Estado José Lello.
Será um lugar onde milhares de lusodescendentes poderão mergulhar nas suas origens e descobrir como
as vidas dos seus pais e avós foram retratadas, como construíram os seus percursos, como superaram tantas
dificuldades em sítios e culturas estranhas. Será, portanto, um lugar de reconciliação com a nossa memória
coletiva.
Há uma quantidade gigantesca de informação dispersa em monografias, objetos, arquivos, património
edificado e linhagens de gerações de portugueses do continente, dos Açores e da Madeira, à espera de quem
lhes dê um destino, que seria lamentável que se perdesse.
Tendo o enquadramento do Estado, será estável e sustentável, sem as limitações que os museus municipais
dedicados à emigração apresentam em recursos técnicos, capacidade financeira e equipas competentes para
dar vida e alma ao museu, que faz obviamente sentido ficar localizado numa região de forte emigração, mas
que seja central e de fácil acesso.
Nas escolas, a visão da emigração é ainda consideravelmente limitada, designadamente nas disciplinas de
Geografia ou História, integradas no contexto geral das migrações. Fala-se das remessas, mas sem pensar na
importância desse dinheiro para a economia real. Expõem-se as estatísticas sobre os fluxos de emigrantes, mas
sem a dimensão humana que lhes está associada. Agora, no contexto do projeto de flexibilização curricular, há
a oportunidade para que a história da emigração passe a ser ensinada com uma nova abordagem, que permita
conhecer como evoluiu nas suas diversas facetas — da sua repercussão cultural ao seu valor económico, da
sua dimensão humana à sua importância política e diplomática — e tanto nos seus aspetos positivos como
negativos.
É da maior importância que a escola faça a pedagogia que ainda não foi feita, dando a conhecer, valorizando
e dignificando aqueles que, no passado, foram sempre estigmatizados, particularmente no século XX, durante
os tempos da ditadura. Tal como devem ser fomentados nas universidades os estudos sobre a emigração
portuguesa, para se compreender melhor todas as dimensões da sua existência. Reconhecer, eliminar
preconceitos e dignificar a emigração portuguesa, que, inclusivamente tem o seu reconhecimento na
Constituição da República Portuguesa, é o que se pretende com as iniciativas legislativas apresentadas pelo
PS, honrando, ao mesmo tempo, o esforço de muitos que se empenharam nesta luta, de que é exemplo a Prof.ª
Maria Beatriz Rocha Trindade. Não há portugueses de primeira e de segunda: só há portugueses, vivam eles
no País ou no estrangeiro.