4 DE NOVEMBRO DE 2017
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hoje jura defender os recibos verdes foi precisamente a mesma que penhorou os rendimentos e a vida a milhares
de trabalhadores precários.
Aplausos do BE e do Deputado do PS João Galamba.
A direita que hoje critica um Orçamento que garante um significativo alívio no IRS é exatamente a mesma
que fez o que prometeu não fazer, ao aumentar os impostos e que não fez o que prometeu ao não acabar com
a sobretaxa.
Pois bem, por muito que isso custe à direita, a verdadeira reforma estrutural está aqui: garantimos já o fim
da sobretaxa e um IRS mais justo, com um alívio que passou dos 200 milhões inscritos no Programa de
Estabilidade para o dobro neste Orçamento do Estado e que recupera rendimentos, a começar pelos
contribuintes mais atacados pelo Governo anterior.
Não nos enganemos, portanto. A única reforma estrutural que a direita conhece, e da qual não esconde uma
saudade magoada, é a de cortar a direito nos direitos. O que a direita nunca conseguirá perceber é que parar o
empobrecimento do País, garantir estabilidade onde havia precariedade e rendimento onde havia cortes, isso é
uma reforma estrutural de enorme alcance concreto para a vida concreta de milhões de pessoas.
Aplausos do BE.
Sr.as e Srs. Deputados, o País pobre exige que as mudanças estruturais do País vão mais longe e não nos
perdoará se nos coibirmos de enfrentar o essencial que impede que a vida dos de baixo mude a sério.
E ir mais longe é, desde logo, não ficar a meio da ponte em matéria de recuperação de rendimentos, que é
a reforma estrutural por excelência para as vidas de que se faz o País pobre.
Sr. Primeiro-Ministro, o Bloco de Esquerda regista, com agrado, o seu reiterado compromisso com a
recuperação de rendimentos do trabalho, mas, para que essa palavra seja honrada, este Governo tem de
abandonar a sua paralisia em torno da legislação laboral. Precisamos de devolução de rendimentos em toda a
economia e isso quer dizer contratação coletiva e quer dizer tolerância zero para com a precariedade.
Aplausos do BE.
Essa escolha tem de ser feita neste mandato. E sejamos claros: ou queremos um País que respeita o trabalho
ou queremos uma imensa Padaria Portuguesa.
O povo pobre não nos perdoará se a folga trazida pela saída do procedimento por défice excessivo e pelo
crescimento da economia não alimentar a qualificação da rede pública de ensino e não significar um grande
reforço do Serviço Nacional de Saúde que afaste de vez as parcerias público-privado nesse setor. O País que
olha com esperança as mudanças estruturais que estamos a operar não perceberá que essa melhor respiração
da nossa economia continue a conviver com um orçamento para a cultura que só nos pode envergonhar.
O País pobre, o que mais sofreu com os fogos e hoje caminha sobre cinza, não nos perdoará se não formos
capazes do apoio e da reconstrução de um território mais seguro, e essa é uma resposta que exige mudança
estrutural na floresta, na proteção civil e não menos no desenvolvimento.
Cada escola, cada tribunal, cada repartição de finanças, cada centro de saúde que fechou para,
alegadamente, economizar recursos é mais uma parcela do território abandonado que hoje todos lamentam.
Cada portagem no caminho entre a aldeia e o hospital é mais uma penalização a quem resiste no interior. Cada
linha de comboio fechada, degradada, abandonada, é um País que continua a despovoar-se.
Dir-se-á que não é num Orçamento do Estado que se resolvem décadas de erros. É certo! Mas o que se
debate neste Orçamento, como nos anteriores, é se há vontade ou não de fazer diferente.
Alguns nos dirão que vontade existe, mas meios nem tanto. Os recursos são limitados, bem o sabemos. Mas
temos muito mais capacidade de fazer escolhas do que gostam de admitir os que sempre se desculpam quando
a política falha pela falta de meios. É por isso que há, ainda, uma outra mudança estrutural que temos de ter a
lucidez e a coragem de fazer agora. Essa mudança diz respeito à dívida. Hoje, vendo a enorme fragilidade do
País, é claro que a dívida não é apenas um risco face a choques externos, num futuro mais ou menos breve,
ela é uma chantagem instalada, é uma força de bloqueio das mudanças estruturais que o País reclama.