4 DE NOVEMBRO DE 2017
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Precisamos de medidas que reforcem, desde já, os apoios públicos à criação artística.
Assinalamos o crescimento registado neste capítulo, mas consideramos que é claramente insuficiente.
Propomos que se aumente, já em 2018, as linhas existentes de apoio às artes para 25 milhões de euros, que
mais não é do que a reposição dos valores de 2009, o último ano em que os concursos abriram sem os cortes
cegos aplicados a pretexto dos PEC no Governo PS/Sócrates e dos cortes a pretexto do pacto de agressão da
troica no Governo PSD/CDS, acrescidos do valor da inflação.
Saudamos, como não poderíamos deixar de o fazer, o acolhimento da proposta do PCP — reivindicação de
há muitos anos da Juventude Comunista Portuguesa —, de redução do IVA dos instrumentos musicais, deixando
de ser taxados como objetos de luxo. É um avanço importante para quem trabalha, para quem estuda e para
quem divulga a música. Outros passos, noutros capítulos, podem e devem ser dados.
Se há lugares por preencher nos quadros de pessoal de museus, palácios e monumentos nacionais, que
sejam desde já tomadas todas as diligências para o seu rápido preenchimento.
Se há necessidades de salvaguarda e proteção do património cultural, que se tomem medidas de
investimento público para que tal aconteça, sem destinar apenas os que têm potencial económico e turístico à
gula dos privados, privando os trabalhadores e o povo da sua fruição.
Até porque o que pagamos em juros da dívida num só ano dava para quase 10 anos de 1% para a cultura
no Orçamento do Estado.
Este é um verdadeiro constrangimento à reposição de direitos e rendimentos, reposição que tem de chegar
a todos os campos na vida e também a este pilar da democracia que é a cultura.
A estruturação de um verdadeiro serviço público de cultura exige um Ministério da Cultura com meios
materiais, humanos e financeiros. Só assim é possível ao Estado promover a democratização da cultura,
incentivando e assegurando o acesso de todos a toda a cultura, o acesso de todos à fruição e à criação culturais.
O Sr. Primeiro-Ministro disse ontem que, se ainda exercesse as funções de Deputado e pudesse votar
favoravelmente, na especialidade, propostas para melhorar o orçamento da cultura, o faria. Pois, então, o PCP
vai proporcionar, de forma construtiva, várias oportunidades para que os Deputados da bancada do Partido
Socialista possam acompanhar o Primeiro-Ministro nessa vontade.
É esse o nosso compromisso, para que possamos voar sem que «saiam da lama garras de chão que nos
prendam os tornozelos».
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr.ª Deputada Ana Mesquita, a Mesa registou a inscrição, para
pedir esclarecimentos, de dois Srs. Deputados.
Pretende responder separadamente ou em conjunto?
A Sr.ª AnaMesquita (PCP): — Em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sendo assim, tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr.
Deputado Sérgio Azevedo.
O Sr. SérgioAzevedo (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Mesquita, ouvindo a intervenção do
Partido Comunista Português, ficamos com a sensação clara de que existem dois PCP.
Há um PCP que, lá fora, afirma manter-se na luta pelo fim da austeridade, mas que, cá dentro, vota um
Orçamento que não só a mantém como a agrava.
Há um PCP que, lá fora, diz defender os trabalhadores precários, mas que, cá dentro, aprova um Orçamento
que rompe com mais de uma década de estabilidade fiscal e que abrange mais de 600 milhões contribuintes, e,
com isso, continua a ter uma dupla faceta.
O Sr. João Oliveira (PCP): — O senhor vai ter de votar as nossas propostas!
O Sr. SérgioAzevedo (PSD): — Há um PCP que, lá fora, enche a boca com o descongelamento das
carreiras e outro que, cá dentro, nada diz e que aprova um Orçamento que nada esclarece sobre a progressão