30 DE NOVEMBRO DE 2017
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Deixo uma nota para a iniciativa legislativa do PSD, que propõe equipas de 10 elementos em cada
cooperação de bombeiros e em cada câmara municipal, o que merece alguma consideração, preocupação e
reflexão: pode haver, efetivamente, uma duplicação de unidades, mas se a profissionalização é um caminho
que já está a ser percorrido é necessário articular esse caminho com a necessidade de valorização dos
bombeiros voluntários.
Por fim, temos a iniciativa legislativa de Os Verdes sobre formação e sensibilização acerca de como agir em
casos de perigo. É imperioso dotar as populações das ferramentas e dos conhecimentos no âmbito da proteção
civil, o que, infelizmente, hoje não acontece.
Dito isto, duas notas finais: primeiro, estas medidas no âmbito da proteção civil deviam ser enquadradas
numa revisão global do sistema nacional de proteção civil que está em curso e que merece uma reflexão mais
aprofundada, e o PCP está disponível para essa mesma reflexão; em segundo lugar, não podemos deixar de
registar a hipocrisia de alguns partidos, nomeadamente do PSD, que, em sede de discussão do Orçamento do
Estado, tiveram oportunidade de resolver problemas concretos dos bombeiros, por exemplo, e não o fizeram.
O PSD juntou-se ao PS no chumbo de um melhor mecanismo de devolução do IVA aos bombeiros; o PSD
juntou-se ao PS na rejeição da proposta do PCP que atribuía às corporações de bombeiros gasóleo verde, isto
é, mais barato, o que é da mais elementar justiça, pois os bombeiros pagam o mesmo preço pelo gasóleo que
paga qualquer um dos Srs. Deputados, qualquer um dos portugueses e isso não faz qualquer sentido. Ora, PSD
e PS, repito, juntaram-se para rejeitar essa mesma proposta e a única proposta do PCP que foi aprovada no
que diz respeito aos bombeiros foi a isenção do imposto sobre veículos, uma proposta também da mais
elementar justiça mas que teve o voto contra do PSD.
Portanto, aqui fica a desconsideração do PSD relativamente à proteção. É que, efetivamente, tiveram
oportunidade para resolver problemas concretos no âmbito da discussão do Orçamento do Estado e nada
fizeram, antes pelo contrário atrapalharam.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Cunha.
A Sr.ª SandraCunha (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Pode ler-se nas recomendações do
Relatório da Comissão Técnica Independente, e cito, que «o dispositivo especial de combate a incêndios
florestais não prevê a obrigatoriedade da existência de recursos humanos especializados, com formação e
experiência profissional, que garanta a utilização das ferramentas de previsão e/ou apoio à decisão ou da
implementação eficaz das normas de organização do sistema».
Perante esta realidade, a Comissão Técnica Independente recomenda que os sistemas de proteção civil
devem ser constituídos por profissionais que devem possuir as competências e a experiência adequada para o
desempenho das funções.
O Bloco de Esquerda tem alertado por diversas vezes para a necessidade da profissionalização da proteção
civil. Valorizamos a experiência, o esforço e a dedicação de todos os bombeiros e bombeiras, profissionais ou
voluntários, e defendemos inclusivamente que o eventual alargamento de equipas de bombeiros profissionais
encontre os recursos humanos de que necessita no seio dos bombeiros voluntários, que detêm o conhecimento,
a formação e a experiência.
Mas porque, efetivamente, as condições de desempenho das funções dos bombeiros e bombeiras, com a
disponibilidade e a capacidade de resposta em tempo útil aos incêndios ou, ainda, a garantia da proteção e
segurança contra incêndios em condições de igualdade para toda a população e em todo o território nacional
beneficiam da profissionalização do sistema de proteção civil, o Bloco de Esquerda traz aqui hoje também um
projeto que recomenda a constituição, em todo o território nacional, de equipas de intervenção permanente de
bombeiros profissionais cujo serviço seja assegurado durante 24 horas, e não apenas no período das 9 às 5, ou
ficaremos na mesma.
Considerando que estas equipas são constituídas por cinco elementos, importa garantir a constituição destas
EIP em número nunca inferior a três por cada corporação ou corpo de bombeiros.
Desde a tragédia deste verão que o que mais ouvimos é que as coisas têm de mudar, esperemos que a
mudança tenha, de facto, mais de realidade e menos de anseio.