30 DE NOVEMBRO DE 2017
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Depois dos fogos de 2016, reconhecendo a sua incapacidade no combate, o Governo apelou ao consenso
e solicitou contributos dos diversos partidos e agentes do setor.
Quando ouvimos os representantes dos proprietários florestais e demais entidades que trabalham a floresta,
ficámos a saber que os seus contributos foram ignorados nos diplomas já aprovados. Também as propostas da
oposição foram rejeitadas, esquecidas e muitas vezes adiadas de forma grosseira.
O Governo e a maioria que o suporta não precisam de contributos; tudo sabem e tudo conhecem no mundo
rural!
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Maurício Marques (PSD): — Depois de uma catástrofe anunciada, com as consequências conhecidas,
que todos lamentamos, os partidos da maioria de esquerda foram a correr para as zonas afetadas, tentando
limpar as suas responsabilidades.
Espera-se, agora, que o Governo e a maioria que o suporta estejam disponíveis para ouvir os apelos que lhe
vão chegando dos mais diversos setores. Espera-se, agora, que o Governo e a maioria que o suporta estejam
disponíveis para acolher as nossas propostas, coisa que não tem acontecido nesta Legislatura. Depois de tantas
vítimas, de tamanha calamidade, espera-se, agora, que o Governo pare, escute e olhe!
Pare! Pare de fazer asneiras, como aquelas que fez no combate; pare de menosprezar o papel dos bombeiros
voluntários; pare de nomear responsáveis para a Proteção Civil apenas pelas suas cores partidárias.
Escute! Escute os proprietários e o setor; escute os partidos da oposição; escute os autarcas; escute aqueles
que podem contribuir para uma floresta mais amiga do homem; escute aqueles que valorizam a floresta e a
conseguem rentabilizar; escute aqueles que dela cuidam e que podem contribuir para uma prevenção florestal
mais cuidada.
Olhe! Olhe para as vítimas, prestando-lhe o apoio que lhes é devido, minimizando o seu sofrimento; olhe
para aqueles que sofrem na pele os acontecimentos recentes; olhe para as zonas afetadas, tratando-as todas
com justiça e equidade; olhe para os pequenos produtores, para os pequenos agricultores, que tudo perderam
e que não têm capacidade nem vontade de ultrapassar as barreiras burocráticas criadas nos apoios anunciados;
olhe para os proprietários florestais, que foram completamente abandonados à sua sorte; olhe para os parques
de receção de madeira — prometidos; olhe para o preço mínimo da madeira queimada — previsto; olhe para a
reflorestação que prometeram apoiar.
Mas olhe também para o futuro imediato, para as chuvas que hão de vir, para as enxurradas de cinza, para
a contaminação das linhas de água e também para as inundações que inevitavelmente vão ocorrer.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Castro.
O Sr. João Azevedo Castro (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: É uma realidade nacional a
gravidade, a frequência e a extensão com que o nosso País vem sendo abalado pela intensidade dos incêndios
que ocorrem em grande parte do território continental.
É um facto que são décadas de problemáticas não resolvidas e de soluções adiadas e outras interrompidas.
São estratégias de ordenamento e de gestão não aplicadas e, sobretudo, uma ação proactiva difícil de
concretizar, considerada a fustigação do nosso País, ano após ano, mediante a aplicação de medidas paliativas.
O XXI Governo Constitucional tomou posse a 26 de novembro de 2015 determinado a enfrentar a questão
recorrente da reforma da floresta. Não obstante esta determinação, é em 2017 que os acontecimentos trágicos
de junho e outubro assumem uma extraordinária dimensão, com expressão ímpar na perda de vidas humanas.
A devastação do interior do País, de zonas já de si vítimas de dificuldades, reflexo do adiamento de uma
atuação necessária por sucessivos governos de políticas estruturadas em prol do reordenamento e gestão da
floresta, a perda de bens, de capacidade produtiva e de postos de trabalho são motivos que não queremos e
não podemos deixar ficar sem resposta.
Não obstante ser já uma prioridade definida, os acontecimentos extremados, anómalos e atípicos ocorridos
este ano, obrigatoriamente, recentram as prioridades da floresta e dos incêndios florestais.