9 DE DEZEMBRO DE 2017
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— tanto assim é que o CDS se desvincula do voto contra do PSD ao abster-se na votação do relatório —, o
importante é a questão política.
Protestos do Deputado do CDS-PP João Pinho de Almeida.
E a questão política é que o PCP denunciou, desde o princípio, que este estatuto do gestor público não serve
o interesse nacional, que este estatuto do gestor público não é adequado a uma fiscalização dos órgãos, neste
caso, da Caixa, que ficam excecionados desse estatuto, tal como não é adequado não haver limite ao
vencimento do gestor público e não é adequado, nem justo, nem aceitável que a Caixa, por precisar de uma
recapitalização, seja obrigada pela União Europeia, e que isso seja aceite pelo atual Governo, como, aliás, foi
pelo anterior, a funcionar como um banco privado porque está em regime de concorrência.
Não é aceitável que o Estado,…
Entretanto, reassumiu a presidência o Presidente, Ferro Rodrigues.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem de concluir.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — … sendo o único acionista da Caixa, seja obrigado a aceitar condições
draconianas que conduzem a Caixa para uma situação incomportável que está a extorquir os clientes para ter
lucros e que atua como um banco privado no mercado. Isso é ainda necessário inverter.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Moisés Ferreira.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Permitir-me-ão que apresente um
cumprimento especial ao Sr. Deputado José Pedro Aguiar Branco pela forma como conduziu os trabalhos e ao
Sr. Deputado Luís Testa, relator desta Comissão de Inquérito, pela forma como conseguiu integrar uma série de
propostas de alteração, inclusivamente várias propostas de alteração do Bloco de Esquerda.
Esta segunda Comissão de Inquérito sobre a Caixa Geral de Depósitos sucede-se a uma primeira, também
solicitada pelo PSD e pelo CDS-PP, com motivações e interesses que nada têm a ver com a Caixa Geral de
Depósitos, eram efetivamente um ataque ao banco público. Foram, aliás, comissões de inquérito onde estes
partidos participaram de forma oportunista para atacar o banco público.
No entanto, o Bloco de Esquerda participou nestas mesmas comissões de inquérito numa perspetiva de
apuramento da verdade e de identificar, nas conclusões desta Comissão de Inquérito, para presente e para
futuro, uma série de procedimentos que nos parecem errados e que não devem acontecer, nem no presente
nem no futuro.
Primeiro, um banco público é um banco público e um gestor público deve estar sujeito a maior escrutínio e
fiscalização. Portanto, quem está à frente de um banco público não pode, de forma alguma, tentar fugir a
procedimentos de controlo e de fiscalização. António Domingues demitiu-se, e ainda bem, não servia para o
banco público, porque não queria submeter-se a este controlo e fiscalização que são exigidas para esta função.
Mas o Governo também esteve mal quando não afastou liminarmente a hipótese de qualquer exceção a estes
gestores.
Segundo, um banco público não pode ser equiparado a um banco privado, nem pode funcionar como um
banco privado. Houve várias propostas de alteração à legislação feitas por António Domingues que o Governo
aceitou discutir, mas nunca deveria ter aceitado discuti-las porque um banco público tem em cada cidadão um
seu acionista e deve ter como objetivo a prossecução do interesse público. Um banco público não pode funcionar
como um banco privado e por isso nunca deveriam ter sido colocadas em cima da mesa propostas de alteração
legislativa que o equiparassem a um banco privado.
Terceiro, esta questão pareceu-nos fundamental e consta das conclusões do relatório desta Comissão de
Inquérito: não podemos aceitar, num Estado de direito democrático, leis feitas à medida e houve procedimentos