5 DE JANEIRO DE 2018
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O Sr. Deputado perguntou se, de acordo com a minha experiência parlamentar, e em relação a legislaturas
passadas, teria alguma coisa a dizer. Vou responder-lhe com a maior franqueza: ouvi recentemente um
comentador de televisão, que no passado foi líder do seu Grupo Parlamentar, dizer que o processo conduzido
no grupo de trabalho tinha sido, nas suas próprias palavras, «um escândalo». Esse mesmo comentador, à altura
líder do Grupo Parlamentar do PSD, reuniu comigo informalmente, então na minha condição de líder do Grupo
Parlamentar do PS, e vinculámos os nossos dois partidos a um acordo de revisão constitucional ao mais alto
nível do processo legislativo do Estado. Nessa altura, como sabemos, era Presidente do seu partido o Prof.
Marcelo Rebelo de Sousa e era Secretário-Geral do meu partido o Eng.º António Guterres.
O acordo celebrado entre os dois partidos cumpriu-se. Que se saiba, não houve atas, nem tinha de haver,
das reuniões informais e do acordo estabelecido entre os partidos, mas houve um resultado, houve um processo
legislativo subsequente, houve uma aprovação da Constituição e eu, pessoalmente, e estou convencido de que
também o seu partido, orgulhamo-nos muito do trabalho feito nessa ocasião.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do Grupo
Parlamentar de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jorge Lacão, queria saudá-lo não só
por ter trazido de novo este assunto para discussão neste Plenário, mas, sobretudo, pelo esforço e pelo
contributo no sentido de esclarecer o que está verdadeiramente em causa com as alterações à Lei do
Financiamento dos Partidos Políticos.
De facto, há muito para esclarecer sobre esta matéria, principalmente depois de tudo aquilo que tem sido
dito e escrito nos últimos dias.
Primeiro, ouvimos vozes dizer que estas alterações eram inconstitucionais, mas, até hoje, ninguém foi capaz
de identificar a norma da nossa Constituição que está em causa com estas alterações. E porquê? Tão-só porque
não há qualquer confronto com a nossa Constituição. Aliás, se dúvidas houvesse, isso ficaria claro na mensagem
do Sr. Presidente da República a este propósito. No entanto, a questão da constitucionalidade destas alterações
alimentou a discussão sobre esta matéria durante vários dias. Ora, este exemplo mostra, de forma muito clara,
o caminho distorcido que a discussão conheceu.
Depois, veio a conversa do grupo de trabalho, como se não fosse habitual no processo legislativo a existência
de grupos de trabalho.
De seguida, veio a conversa do secretismo, quando, afinal, todos os grupos parlamentares participaram
nesse grupo de trabalho. O Deputado do PAN não participou seguramente porque não quis.
Depois, foi referida a retroatividade fiscal, quando todos sabemos que no nosso ordenamento jurídico não há
lugar para a retroatividade das normas fiscais.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Ora, aí está!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — E isto tinha de ser dito, porque tenho dúvidas de que aqueles que
insistem em continuar a distorcer o caminho desta discussão fiquem a ganhar com o negócio. Ainda estamos
para ver.
Portanto, consideramos que este caminho está enviesado, que é preciso esclarecer e, por isso, saúdo o Sr.
Deputado Jorge Lacão pelos contributos que deu e também por ter trazido novamente esta discussão para
Plenário.
Para terminar, tenho um pedido de esclarecimento a fazer-lhe, Sr. Deputado: este caminho que a discussão
conheceu ou tem assumido, diria até, antipartidos, é bom ou mau para a nossa democracia, no entendimento
do Sr. Deputado?
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lacão para responder.