11 DE JANEIRO DE 2018
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O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para formular pedidos de esclarecimentos, o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Ministro da Saúde, numa altura em que vivemos
o pico da gripe, com o Sr. Primeiro-Ministro a admitir, aqui, no Plenário, a existência de momentos de rutura, a
pergunta que se impõe é a seguinte: o que pretende o Governo fazer, no imediato, para tornar os planos de
contingência mais aptos? Mais aptos com vista a dar resposta aos problemas com que os serviços de saúde,
hoje, se confrontam, mas também para evitar os tais momentos de rutura no futuro.
Depois, Sr. Ministro, apesar dos esforços do Governo, a verdade é que persistem ainda muitas preocupações
graves ao nível do Serviço Nacional de Saúde. Não são de agora, é verdade, mas também é verdade que
persistem. E dessas preocupações, pela sua importância e pelo reflexo que acabam por ter ao nível da prestação
de cuidados de saúde, destaco duas: a primeira tem a ver com a carência de profissionais de saúde e a segunda
diz respeito à transferência das responsabilidades do Estado para os privados, no que diz respeito à prestação
de cuidados de saúde.
Sobre a primeira preocupação, Sr. Ministro, interessa saber o que tem vindo o Governo a fazer ao nível da
política de recursos humanos com o propósito não só de valorizar os profissionais de saúde mas também como
forma de evitar que estes profissionais vejam na emigração a solução para o futuro da sua atividade profissional.
Recordo, a este propósito, que um estudo da Seção Regional do Norte da Ordem dos Médicos concluiu que
50% dos médicos a fazer formação na especialidade admite a possibilidade de emigrar no final do internato. Por
isso, há todo o interesse em saber o que está o Governo a fazer para evitar esta previsível realidade.
Sobre a transferência para os privados, ou seja, sobre as parcerias público-privadas na área da saúde, Sr.
Ministro, consideramos que a prestação de cuidados de saúde deve pertencer ao Estado, não só porque é a
única forma de se conseguir prestar cuidados de saúde de qualidade aos utentes mas também porque é dessa
forma que se consegue garantir os direitos laborais dos respetivos profissionais.
Por isso mesmo, não acompanhamos o Governo no prolongamento por mais dois anos da parceria público-
privada em Cascais, como não acompanhamos o Governo na nova parceria público-privada para o hospital de
Lisboa Oriental.
Mas a pergunta que quero fazer, Sr. Ministro, diz respeito à parceria público-privada de Braga. Esta parceria,
como certamente o Sr. Ministro está recordado, termina em 2019 e, nos termos da lei, este ano o Governo vai
ter de informar a concessionária se pretende prolongar a concessão com o atual grupo económico, se vai abrir
novo concurso ou, se, por fim, vai reverter o serviço para o Estado.
Sr. Ministro, consideramos que esta era uma excelente oportunidade para o Governo decidir pela reversão
do serviço, uma vez que não decorrem daí custos para o Estado, em termos de indemnizações. Portanto, eu
gostaria de saber o que o Governo vai fazer relativamente a esta parceria público-privada, até porque, como é
público, este hospital não está a respeitar o tempo máximo de resposta garantida em várias especialidades,
como, certamente, o Sr. Ministro reconhecerá.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro Adalberto Campos Fernandes.
O Sr. Ministro da Saúde: — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, começo por responder a um conjunto
de questões formuladas pelo Sr. Deputado do PSD Dr. Ricardo Baptista Leite, e permita-me que o faça com
uma pequena introdução de natureza estritamente política.
Nós, no Governo, compreendemos a dificuldade que hoje é ser oposição desse lado, da Assembleia, do
Parlamento, e que, perante, de facto, a incapacidade de ter uma agenda política firme e de ter abdicado daquilo
que eram os diabos passados relativos à iminência do desastre económico, da criação de emprego, da redução
da dívida, até da assunção da presidência do Eurogrupo, o desespero tenha feito — aliás, previsivelmente e
bem, Sr. Deputado — desviar a atenção para os serviços públicos.
A segunda parte, também de natureza política, é para saudar a vinda do PSD, e também do CDS, a esta
cruzada de defesa ativa e forte dos serviços públicos, quiçá deixando percorrer pela face uma ou outra lágrima
de crocodilo.