18 DE JANEIRO DE 2018
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Matemática. Aqueles que não tiverem dinheiro para pagar explicações não conseguirão passar num exame
relativo a um programa que é completamente absurdo, esses não poderão ter sucesso escolar.
O que é ainda mais absurdo é que no país europeu em que, em níveis absolutos e proporcionais, há mais
horas letivas de Matemática o facto de 60% de alunos terem que recorrer a explicações não faça soar
campainhas na cabeça de ninguém…
Vozes do PSD: — Faz! Faz!
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — … e a campainha que tem de soar é que não há programas, Sr. Ministro —
e insisto nisto —, de flexibilização curricular que resistam à formatação do sistema imposta por programas
desadequados, metas desadequadas e pelo peso excessivo dos exames. O currículo imposto por Nuno Crato
é um currículo pobre, que tem de ser alterado, e aquilo que temos de perguntar é se é esta a escola que nós
queremos.
Todos os dados, inclusive aquele que a Sr.ª Deputa Ana Rita Bessa citou, indicam que o sistema educativo
privilegia quem tem condições socioeconómicas favoráveis à partida.
Todos os dados indicam que o ensino profissional é uma via para aqueles alunos que têm piores
desempenhos — inclusive está no relatório sobre o estado da educação de 2016. Essa continua a ser a via
preferencial para os alunos com piores desempenhos, que — coincidência! — são alunos com condições
socioeconómicas mais desfavoráveis à partida.
É por isso que temos de perguntar: é esta a escola profissional que queremos para mais de 50% dos alunos?
É com a asfixia financeira do ensino profissional que vamos valorizar o ensino profissional para que ele não
tenha este perfil de alunos? Que sinal é que quer o Governo dar ao ensino profissional?
Há outro dado preocupante no estado da educação em 2017 e 2018: é que os professores trabalham mais
do que a média europeia e sentem-se menos reconhecidos do que a média europeia dos professores.
Sr. Ministro, depois de amanhã vão recomeçar as negociações com os sindicatos que representam os
docentes. O Governo assumiu compromissos com a escola pública, assumiu compromissos com os professores,
assumiu compromissos com o Bloco de Esquerda e assumiu compromissos com o Parlamento relativamente a
carreiras, relativamente ao reposicionamento de professores que estão presos no 1.º escalão, relativamente às
vagas que é preciso abrir, e com estabilidade para o futuro, de transição para os 5.º e 7.º escalões e
relativamente à contagem do tempo de serviço. Aquilo que queremos saber é se o Sr. Ministro garante que
serão estes compromissos, que será o Estatuto da Carreira Docente que vai nortear a discussão sobre as
carreiras e a reposição e a contagem integral do tempo de serviço e que não há carreiras ad hoc para as
docentes e para os docentes.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr.as e Srs. Deputados, a realidade mostrou-nos que, para lá dos discursos,
o CDS não quer saber de nenhuma…
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Terminou o seu tempo, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Termino já, Sr. Presidente.
Como dizia, o CDS não quer saber de nenhuma destas preocupações que afetam hoje o sistema de ensino.
O que o CDS quer saber é em que dia é que saem os rankings, porque é isso que entusiasma a direita. A direita
agarra-se aos exames, agarra-se aos concursos das notas, agarra-se à sua herança, agarra-se à escola para
selecionar. A direita não quer um ministro da educação, a direita o que quer é um selecionador nacional da
educação, é isso que a direita quer que exista.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr.ª Deputada, peço-lhe o favor de concluir.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Termino já, Sr. Presidente.