3 DE FEVEREIRO DE 2018
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O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — … e é neste sentido que o Grupo Parlamentar do Partido Socialista
propõe a criação de uma comissão eventual, através do presente projeto de resolução. Uma comissão eventual
que não pretende substituir-se às restantes comissões — às comissões permanentes que, naturalmente,
continuarão a fazer o seu trabalho, nas suas áreas de especialidade — mas, como está, aliás, previsto nesta
iniciativa, deve recolher esses contributos. Uma comissão eventual que pode permitir uma reflexão estruturada,
potenciando todos os contributos e, portanto, contribuindo também para uma definição mais sólida de uma
melhor estratégia nacional para um processo que, necessariamente, condicionará o modelo de desenvolvimento
do País em toda a próxima década.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, em nome do
Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, o Sr. Deputado Paulino Ascenção.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Obviamente, o quadro financeiro
plurianual pós-2020 é um instrumento fundamental para o futuro do País e as prioridades que aí forem
estabelecidas é que vão determinar se este instrumento vai melhorar a competitividade, se vai melhorar a
situação do País em termos de desigualdades sociais e de coesão territorial.
Como muito bem disse o Sr. Deputado Rocha Andrade, a política consiste em fazer escolhas e, aqui, vamos
escolher qual é o País que queremos: se queremos uma competitividade baseada na qualificação e em
atividades de alto valor acrescentado ou se queremos uma competitividade, como tem sido a escolha seguida
nos últimos anos, baseada em mão-de-obra barata, na desqualificação e na precariedade. Isto porque nem
sempre se concilia esta questão da competitividade com a coesão social e territorial e este é um debate
envolvido em grande hipocrisia, pois têm sido aprovadas medidas em nome da competitividade e da criação de
riqueza que têm levado ao aumento das desigualdades e ao agravamento da pobreza.
Como é sabido, nos últimos anos, o crescimento do emprego não tem permitido a redução dos índices de
incidência de risco de pobreza no nosso País e, portanto, é uma escolha a fazer: se queremos ter como
referência as sociedades mais desenvolvidas, onde o nível de desigualdades não é tão grande, ou se queremos
ter como referência outros países mais pobres, em que há grande nível de desigualdades.
É muito interessante este discurso, de que a melhoria da competitividade, modernizar o País, diminuir as
desigualdades sociais e o desafio demográfico também são uma escolha. O desafio demográfico tem,
sobretudo, a ver com a estabilidade da vida das pessoas, com a qualidade do emprego, com o nível da
remuneração, com a precariedade e com as escolhas a que temos vindo a assistir, pelo Governo anterior, que
agravaram o problema da demografia. E, apesar das boas intenções que constam no Programa deste Governo,
tardam a surgir medidas efetivas.
O Sr. Deputado referiu o passado, que já temos larga experiência, 30 anos de aplicação, e temos tido bons
índices de execução dos fundos comunitários. Quantidade não significa qualidade e, como também referiu, nem
sempre as escolhas foram as melhores. Houve uma preferência por investimentos de natureza especulativa em
detrimento de investimentos produtivos que conduziu ao desequilíbrio na ocupação do território, ao
favorecimento no transporte individual sobre o coletivo, e isto teve os seus custos ambientais, ao agravamento
da fatura energética, ao desordenamento urbanístico, ao aumento dos tempos de deslocação, ao stress, e isto
teve custos para a saúde pública e redução da produtividade.
É bom que façamos as escolhas certas, desta vez, e, também, que haja todo o rigor na fiscalização da
aplicação dos fundos, porque nem sempre houve transparência e clareza no passado.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Uma última palavra, para garantir que, em nome da igualdade territorial,
haja também um tratamento adequado das regiões ultraperiféricas, para compensá-las do isolamento, do
afastamento do continente e do maior custo de vida que decorre desta situação.
Aplausos do BE.