3 DE FEVEREIRO DE 2018
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Srs. Deputados, os fundos comunitários não podem ser uma espécie de moeda de troca, aliás, objeto de
crescentes restrições à medida que se vai deixando cair a dita «política de coesão» para, supostamente,
promover uma integração que, na verdade, se traduziu e se traduz numa política de subjugação de tipo colonial,
imposta aos países e povos e, concretamente, a Portugal e ao povo português.
Esta realidade não pode ser escondida ou ignorada no debate que temos pela frente, porque a questão que
se coloca, tantas e tantas vezes, está a montante das decisões que depois tomamos sobre a gestão e aplicação
dos fundos, está nos acordos de parceria, está nas condicionalidades macroeconómicas, está nas regras que
nos querem impor, que são autênticos coletes de forças, profundos constrangimentos ao desenvolvimento e às
opções soberanas que um país deve ter e se deve permitir para avançar, para crescer e desenvolver-se.
O que isto significa é que, quer ao nível nacional, da aplicação e gestão dos fundos comunitários, quer ao
nível do posicionamento de Portugal nesse debate político, que é preciso suscitar, quanto às opções, a
montante, que determinam estes quadros e estes fundos, às vezes, até parece que há certas escolhas que não
podemos fazer, porque alguém já as fez por nós, e isto é inaceitável. Temos direito ao desenvolvimento, temos
direito à soberania e temos de defender esses direitos enquanto País. É também isto que vai estar em cima da
mesa, no debate que temos pela frente.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro
Mota Soares.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começamos agora uma
discussão, que já vai com algum atraso, sobre o próximo quadro financeiro plurianual. Muito provavelmente, a
partir de abril ou maio a Comissão Europeia vai começar este diálogo com os vários países, em torno de linhas
que é importante, também na Assembleia da República, termos a capacidade de discutir. Sabemos da
importância dos fundos comunitários, como normalmente lhes chamamos, para o desenvolvimento da economia
portuguesa, para a qualificação dos trabalhadores portugueses, até mesmo do ponto de vista da valorização
dos nossos recursos humanos. Sabemos como foi importante, desde a adesão, a utilização de muitos destes
fundos para reduzirmos as desigualdades, para promovermos a economia portuguesa, do ponto de vista do
crescimento e da competitividade, e também para trabalharmos na qualificação, que é sempre algo de muito
importante. Neste sentido, é sempre importante lembrarmo-nos de que estas verbas também servem para
garantirmos maior coesão dentro da União Europeia.
A União Europeia é um projeto político, mas é um projeto político que tem acopladas uma dimensão social e
uma dimensão económica. Este valor da coesão é um valor muito importante, especialmente numa altura em
que se discute a possibilidade de se mudar a lógica de termos verbas de coesão. Portugal não pode, nem deve,
aceitar algo como isso.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Por isso mesmo, num debate desta dimensão, o CDS disse logo,
claramente e à partida, quais eram as matérias mais importantes, mais fundamentais, no próximo quadro
comunitário. E dissemo-lo apresentando, neste Parlamento, uma iniciativa legislativa que, de uma forma clara,
elenca quatro objetivos fundamentais.
O primeiro objetivo é o de cumprirmos as metas de desenvolvimento sustentável, tal como foram fixadas
pelas Nações Unidas, em matérias como a das alterações climáticas, como as questões estruturais sobre a
água e sobre a seca, como a descarbonização da nossa economia e, ligada a esta, em matérias como a da
mobilidade suave, com a substituição de transporte individual por transporte público.
Uma segunda área, para nós, muito relevante é a da coesão social e territorial. Infelizmente, a tragédia que
Portugal viveu em 2017, com os fogos, lembrou-nos, mais uma vez, a fundamental importância de alocarmos
fundos comunitários à redução desta desigualdade territorial.
Uma terceira área, para nós, também muito relevante é a da demografia, uma área que, entendemos, deve
ser trabalhada numa dupla aceção, numa aceção de conseguirmos alterar a baixa taxa de natalidade, que,