I SÉRIE — NÚMERO 57
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Por isso, vir agora querer fazer tábua rasa de toda esta responsabilidade, como se nada fosse, é um exercício
que fica na consciência dos próprios, se ainda a têm em matéria laboral.
Apregoar preocupações que nunca se tiveram anteriormente apenas faz cair a máscara da forma de fazer
política da direita: apagam a sua responsabilidade da história e tentam enganar aqueles a quem destruíram a
vida durante mais de quatro anos. Isso não passará em claro, Srs. Deputados e Sr.as Deputadas.
Aplausos do BE.
Mas, no dia de hoje, há um tema relacionado com o emprego que é absolutamente incontornável. Um dos
flagelos da nossa sociedade é a desigualdade de género e tem no emprego um aspeto fundamental.
Por isso, desde já saúdo, em nome do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, todas as mulheres que,
em Portugal e em vários países, hoje se manifestam ou fazem greve pelo reconhecimento de direitos e lutam
pela igualdade e pela dignidade.
Aplausos do BE.
É um dia de luta pelos direitos que todos os dias são negados às mulheres, e um dos direitos que ainda falta
cumprir é o do salário igual para trabalho igual. Uma das vergonhas nacionais é a desigualdade de género e o
fosso salarial que existe entre homens e mulheres.
Dados recentes do Eurostat revelam que Portugal foi o país da União Europeia em que o fosso salarial entre
homens e mulheres mais cresceu entre 2011 e 2016: 4,6%. Esta realidade deveria ser a vergonha do PSD no
dia de hoje!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Bem lembrado!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Estes dados confirmam o que o Bloco de Esquerda sempre disse: a precariedade
e a política «austeritária» da direita levaram não só à destruição de emprego, de uma forma geral, e à diminuição
da qualidade do emprego, como também a que as desigualdades crescessem entre homens e mulheres.
Neste dia, as mulheres sabem que a desigualdade cresceu quando o PSD e o CDS estiveram no governo,
sabem que a desigualdade de género cresceu por causa das suas políticas no governo.
O crescimento da desigualdade salarial entre homens e mulheres é assustador e a realidade é gritante: com
as mesmas funções e qualificações, elas ganham menos cerca de 17% do que eles. Quando olhamos para os
salários dos quadros superiores, a diferença aproxima-se dos 30%. Portanto, quanto mais qualificações, maior
a desigualdade salarial.
Sabemos que quando a precariedade bate à porta dos locais de trabalho, as mulheres são sempre as mais
prejudicadas. São também, por isso mesmo, sempre as mais vulneráveis à pobreza e exclusão social.
Sabemos que a legislação em matéria de combate às desigualdades é urgente, mas também sabemos que
isso apenas será eficiente quando se reverterem as normas gravosas que foram incluídas no Código do Trabalho
pela direita, porque elas fomentaram e aumentaram a precariedade.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — As questões de género que hoje, dia 8 de março, têm de ser referidas são ainda
um entrave à progressão das mulheres no mundo do trabalho, seja porque continuam a ganhar menos do que
os homens, seja porque os direitos de «parentalidade» não estão ainda igualitariamente repartidos, seja porque
o acesso a lugares de topo ainda está vedado às mulheres, na sua generalidade.
Mas a desigualdade de género não é só salarial. As mulheres carregam a diferença de tratamento dos locais
de trabalho até às tarefas domésticas e à vida familiar, onde despendem, diariamente, mais 1 hora e 45 minutos
do seu tempo do que os homens, e não é aceitável.
O Sr. Heitor Sousa (BE): — Muito bem!