I SÉRIE — NÚMERO 58
22
O Sr. Jorge Campos (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Na verdade, Sr. Deputado Pedro Mota
Soares, nós acompanhamos apenas parcialmente a proposta do CDS, como terá oportunidade de verificar.
O Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda revê-se na urgência da recuperação e reabilitação do património
edificado do Estado, tantas vezes descuidado e em adiantado estado de degradação. Tem sido esse, aliás, o
resultado de práticas de sucessivos governos reincidentes na suborçamentação da cultura.
O Forte de Santo António da Barra, no concelho de Cascais, classificado como imóvel de interesse público
desde 1977, é mais um caso de incúria.
Construído em 1590, no tempo de Filipe I, com o intuito de defender a barra do Tejo contra ataques de navios
ingleses, foi objeto de diversas alterações, sobretudo após a Restauração, em 1640, no quadro de um plano de
reforma das fortalezas ao longo da costa atlântica.
Teve múltiplas funções: esteve ao serviço de escolas, mas também serviu de prisão.
Em meados do século XX foi remodelado e adaptado a residência de verão de Salazar. Foi aí, a 3 de agosto
de 1968, que o ditador sofreu o acidente que o incapacitou e do qual resultaria a chamada «primavera
marcelista», afinal, o princípio do fim do Estado Novo.
Como se verifica, o Forte de Santo António da Barra transporta consigo a memória de séculos da História de
Portugal. Por isso, é inadmissível o estado de abandono em que se encontra e creio que, Srs. Deputados, todos
nós estaremos de acordo sobre esta matéria. Há dois anos, um incêndio numa das divisões só não teve
consequências desastrosas dada a rápida intervenção dos bombeiros.
Sr.as e Srs. Deputados, em matéria de reabilitação do património, uma vez acautelado o interesse público e
preservado o valor simbólico dos monumentos, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda admite diversas
soluções, não podendo, no entanto, em caso algum, desresponsabilizar o Estado.
Neste caso, sabemos da existência de um protocolo de transferência de competências do Ministério das
Finanças, ao qual o edifício pertence, para a Câmara Municipal de Cascais, celebrado na vigência do anterior
Governo.
O protocolo, porém — isto é importante e foi uma das razões que nos levou a rever a nossa posição —,
nunca foi posto em prática. E sendo esse protocolo de 2015, é, do nosso ponto de vista, da mais elementar
prudência proceder à sua revisão, de modo a atualizar os seus contornos e a ponderar as consequências da
sua aplicação.
Até porque, estando a reabilitação a cargo dos municípios, também sabemos — não sejamos hipócritas —
das pressões que se fazem sentir para a promoção comercial dos espaços.
Por isso, o Bloco de Esquerda insiste na necessidade de medidas urgentes, mas não pode acompanhar
integralmente a proposta do CDS, estando obviamente muito mais próximo das propostas apresentadas pelo
PAN.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Luís
Marques Gudes.
O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Começo, naturalmente, por saudar
o CDS por ter agendado esta matéria. De facto, assiste-se, relativamente ao Forte de Santo António da Barra,
a uma situação de incúria incompreensível e de inação por parte do Estado.
Surpreende-me, em qualquer circunstância, que o preconceito ideológico, nomeadamente por parte do PCP
e do Bloco de Esquerda, esteja a condicionar uma solução rápida deste assunto, ainda por cima, porque é um
preconceito mal colocado. As câmaras municipais são Estado, as câmaras municipais são entidades públicas.
Esse preconceito ideológico de que o imóvel tem de se manter na esfera pública está obviamente
salvaguardado, desde que seja transferida a responsabilidade de gestão — e não de propriedade, porque essa
continuará sempre a ser património do Estado — para as autarquias.
Foi, de resto, isso o que aconteceu, e tem acontecido, ao longo da costa, desde o cabo da Roca até Lisboa,
no município de Cascais: a transferência da gestão do Forte de Oitavos e da Fortaleza de Cascais, sendo esta
última a joia da coroa dentro daquele território, em termos de defesa de costa. Obviamente que o Forte de Santo