6 I SÉRIE — NÚMERO 59
O Sr. Francisco Lopes (PCP): — E não venham com o presente envenenado da arbitragem obrigatória. Os
direitos dos trabalhadores não podem ficar sujeitos à discricionariedade da decisão de colégios arbitrais.
Impõe-se, sim, acabar com a caducidade, assegurar que um contrato seja substituído por outro contrato
livremente negociado. Essa é a solução! É isso que o PCP propõe.
Aplausos do PCP.
É igualmente inaceitável que se tenham introduzido normas de desregulação dos horários de trabalho. O
prolongamento ilegal dos horários, o abuso da laboração contínua, do trabalho noturno e por turnos, os horários
concentrados, a colocação em causa do descanso semanal, as adaptabilidades, os bancos de horas individuais
e grupais estão a alastrar.
Tudo isto significa: mais horário, menos salário; um trabalhador não saber a que horas sai e, muitas vezes,
não saber, sequer, com antecedência a que horas vai entrar ou sair do trabalho! Há trabalhadores sujeitos a
horários de 12 e 16 horas diárias, a semanas de 60 horas que se sucedem umas às outras.
A saúde física e psíquica dos trabalhadores é posta em causa. Para muitos trabalhadores é impossível
acompanhar os filhos, decidir ter filhos ou ter mais filhos! É impossível articular a vida profissional com a vida
pessoal e familiar!
Tudo isto tem consequências para os trabalhadores, para a sua vida, para a sua saúde, para a sua família e
tem consequências para a sociedade, para o presente e para o futuro do País.
É indispensável assegurar horários dignos e revogar as normas que promovem a desregulação dos horários.
É isso que o PCP propõe!
Aplausos do PCP.
Srs. Deputados, estamos a falar dos direitos dos trabalhadores, da valorização do trabalho e dos
trabalhadores — um aspeto essencial para o desenvolvimento e o futuro do País.
Se há lição que se tira dos últimos anos é a de que a defesa, reposição e conquista de direitos, indispensável
para a melhoria das condições de vida dos trabalhadores e do povo, constituiu, ao mesmo tempo, um fator
decisivo para o crescimento económico e para a criação de emprego.
Se há lição que se pode tirar é a de que a política de agravamento da exploração e empobrecimento, de
cortes de salários, de pensões e de outros direitos sociais, foi não só uma política de injustiça social mas também
de recessão, de desemprego e de afundamento do País.
Os derrotados, na sua estratégia de cortes e regressão de direitos, agarram-se agora, com unhas e dentes,
à manutenção das normas gravosas da legislação laboral para que estas possam servir o mesmo objetivo.
É preciso rejeitar esse caminho. Pelos direitos dos trabalhadores, para distribuir a riqueza criada de forma
mais justa, mas também para criar mais emprego, para estimular o desenvolvimento económico, é preciso
revogar as normas gravosas da legislação laboral.
Srs. Deputados, chegou o momento de discutir e decidir, de tomar posição. O que vai fazer o PS? Vai fazer
o que fez com os dias de férias e com a reposição do valor do pagamento do trabalho suplementar? Vai, mais
uma vez, juntar-se ao PSD e ao CDS?
A solução é acabar com a caducidade, repor o tratamento mais favorável ao trabalhador, revogar as normas
da desregulação e da arbitrariedade nos horários de trabalho.
Sabemos que as propostas que estão hoje em discussão não resolvem tudo porque há que reparar as
consequências de 15 anos de chantagem e regressão de direitos, mas são propostas que correspondem a
medidas indispensáveis.
A Assembleia da República está a discutir e vai votar, porque é aqui que isso deve ser feito. E vai ser feito
depois da discussão pública dos projetos de lei do PCP e dos pareceres enviados pelas organizações
representativas dos trabalhadores.
Aos trabalhadores, aos delegados sindicais e membros de comissões de trabalhadores, aos representantes
de sindicatos, federações e uniões de sindicatos, à Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses-
Intersindical Nacional, aqui presentes, envio a saudação do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português
neste combate de sempre pelos direitos dos trabalhadores.