I SÉRIE — NÚMERO 60
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Aplausos do PS.
Vozes do PSD: — Ah!…
O Sr. Presidente: — Tem novamente a palavra o Sr. Deputado Fernando Negrão.
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Sr. Primeiro-Ministro, não posso deixar de lhe dizer uma coisa: interesses
particulares tem o Governo socialista.
Aplausos do PSD.
Protestos do PS.
O meu único interesse, Sr. Primeiro-Ministro, é o interesse público. Não estou a falar do Montepio, estou a
falar da Associação Mutualista, cuja tutela cabe a um membro do seu Governo. A responsabilidade é sua e do
seu Governo, não é de nenhum privado. Que fique claro, Sr. Primeiro-Ministro, que não há aqui nenhum
interesse a não ser o interesse dos 650 000 membros da Associação Mutualista. Esse é o único interesse que
me move nestas perguntas.
Sr. Primeiro-Ministro, uma última pergunta tem a ver com a segurança no sistema de justiça. Tivemos a
notícia de um funcionário judicial especialista em informática que usou uma password, que estava adormecida,
de uma procuradora, para obter informação relativamente a um clube de futebol, imprimindo documentos e
distribuindo-os por toda a gente. Temos esta informação de um clube que por acaso nos une. Não vou dizer
qual, naturalmente, mas é o nosso clube de futebol.
Sr. Primeiro-Ministro, depois de a Sr.ª Ministra da Justiça ter desvalorizado a situação dizendo que não há
sistemas informáticos imunes, que não há sistemas informáticos aos quais não possam ocorrer situações
destas, pergunto se o Governo já tomou alguma medida no sentido de criar condições para que o nosso sistema
informático possa, de facto, não estar sujeito a acontecimentos e a circunstâncias desta natureza. A segurança
na justiça é fundamental.
Sr. Primeiro-Ministro, que medidas já tomou o Governo?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Fernando Negrão, ainda bem que esclareceu. Se
estamos a falar da Associação Mutualista, não há nenhuma comparação com bancos, ninguém está aqui
preocupado nem ninguém quer ajudar a salvar o banco.
Aplausos do PS.
Do que estamos aqui a falar é de mais de 600 000 famílias que confiaram numa instituição na qual têm as
suas poupanças. Não estamos a falar de um banco de uma família que vem herdando capital financeiro desde
o século XIX, estamos a falar de 600 000 famílias, de portugueses que, com o seu trabalho, com o seu labor,
aforraram e que merecem ser protegidas. Sim, e faremos tudo para proteger essas famílias.
Aplausos do PS.
Não queria deixar de dizer o seguinte: não vou aqui, obviamente, estar a especular — mesmo tratando-se
de um clube que nos é querido — sobre uma matéria que está em investigação judicial, mas a fazer fé naquilo
que vem na comunicação social e a que se referiu, creio não haver forma alguma de prevenir que alguém que
esteja certificado para utilizar o sistema o utilize de uma forma indevida. Apesar de tudo, creio que nos devíamos