16 DE MARÇO DE 2018
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Sr. Primeiro-Ministro, regresso agora à Associação Mutualista dona do Montepio Geral. Veio a público que
era uma IPSS (instituição particular de solidariedade social) e que agora quer deixar de ser; veio a público que
não pagava impostos e que agora quer pagar; veio a público que tinha capitais próprios negativos e, de um
momento para o outro, ficou com capitais próprios positivos. O que isto parece é o milagre da multiplicação de
bens, o que, naturalmente, não acontece com a frequência com que nós queremos e muito menos neste caso.
Sr. Primeiro-Ministro, este filme não é novo. Já vimos este filme em vários bancos privados.
O Sr. João Galamba (PS): — Isto não é só um banco, Sr. Deputado.
O Sr. Fernando Negrão (PSD): — Sr. Primeiro-Ministro, contas marteladas são buracos financeiros no
futuro. Explique bem, Sr. Primeiro-Ministro, esta situação. E por uma razão: porque esta é muito mais grave do
que aquela que aconteceu com os outros bancos; porque, se acontecer e for para a frente, a cumplicidade não
é dos privados, a cumplicidade é do Estado.
Vozes do PSD: — Muito bem!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Fernando Negrão, um dia, com certeza, haveremos
de descobrir o seu profundo interesse relativamente à situação do Montepio.
Aplausos do PS.
Protestos do PSD.
O Sr. Presidente: — O Sr. Primeiro-Ministro está a responder. Peço que façam o silêncio básico para que a
resposta possa ser data.
Sr. Primeiro-Ministro, faça favor de continuar.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas sobre qualquer esclarecimento que queira ter sobre as contas do banco
Montepio — e é naturalmente legítimo que queira ter —, …
Vozes do PSD: — Ah!…
O Sr. Primeiro-Ministro: — … não deve, naturalmente, colocar a questão ao Governo, deve colocar a
questão à entidade legalmente habilitada para supervisionar as contas do banco Montepio.
A Sr.ª Marisabel Moutela (PS): — Exatamente!
Protestos do PSD.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Ora, como o banco Montepio não é tido como banco relevante, a sua supervisão
não cabe ao Banco Central Europeu, cabe ao Banco de Portugal. E estou certo que o Sr. Governador do Banco
de Portugal terá o maior gosto em vir aqui esclarecer se as contas do banco Montepio são ou não são
marteladas.
Aplausos do PS.
Como deve compreender, isso não me compete a mim. Seria, aliás, muito impróprio substituir-me ao Sr.
Governador do Banco de Portugal ao esclarecer a supervisão que lhe cabe a ele fazer.