I SÉRIE — NÚMERO 71
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O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados,
Sr.ª Ministra, os espaços marítimos que estão sob a nossa responsabilidade, seja o mar territorial, seja a zona
económica exclusiva ou seja a plataforma continental, representam, no seu conjunto, um valioso elemento, diria
até mesmo decisivo para o futuro do desenvolvimento do País.
Já tivemos a oportunidade de ouvir a Sr.ª Ministra afirmar que a estratégia crescimento azul requer ou
pressupõe a valorização do mar nos diferentes fundos europeus, e nós estamos de acordo, mas importava que
esta estratégia saísse reforçada, tanto ao nível do pacote de fundos no pós-2020, como também ao nível dos
regulamentos europeus.
E a primeira questão que Os Verdes pretendem levantar neste debate prende-se exatamente com esta
matéria, isto é, temos ou não garantias de que esta estratégia vai, de facto, sair reforçada nestes dois conjuntos
de instrumentos?
Por outro lado, Sr.ª Ministra, o potencial económico estratégico da economia do mar, pela importância de que
se poderá revestir para a nossa economia e para o desenvolvimento do País, tem de ser olhado com olhos de
ver. E, na nossa perspetiva, olhar para este potencial com olhos de ver significa garantir que o seu reforço
assente ou tenha como pressuposto base a sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade dos recursos
marinhos.
Neste contexto, importava saber, no quadro do reforço do potencial económico estratégico da economia do
mar, como é que a sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade dos recursos marinhos estão presentes e
refletidas ao nível da estratégia 2030. Esta é, para nós, uma questão central nesta discussão.
É uma questão central por todos os motivos, a que teremos de somar as consequências das alterações
climáticas, visíveis também ao nível da elevação do nível médio das águas do mar e no aumento das
temperaturas, para além, naturalmente, de outros riscos associados às alterações climáticas, que o nosso País,
infelizmente, tão bem conhece, nomeadamente com as consequências ao nível da nossa zona costeira.
Ora, esta ameaça, cada vez mais evidente, exige medidas sérias que possam contribuir para, de facto,
combater o fenómeno das alterações climáticas e aquilo que gostaríamos de saber é que medidas estão a ser
ponderadas pelo Governo ao nível da política do mar com vista a contrariar ou, pelo menos, reduzir os impactos
das alterações climáticas.
Sr.ª Ministra, passando agora para aspetos, preocupações ou questões mais concretas, começo pela falta
de infraestruturas de pesca no rio Tejo, que, aliás, está a colocar seriamente em risco a pesca tradicional no
estuário. Vemos o tempo passar e continuamos sem locais para os barcos de pesca das dezenas de
comunidades piscatórias locais poderem atracar, bem como locais de pesagem e venda na corda ribeirinha.
De facto, como a Sr.ª Ministra sabe, só existe uma na Fonte da Telha e outra na Costa da Caparica, o que é
manifestamente insuficiente. Por outro lado, face à descapitalização da Docapesca e à passividade da APL
(Administração do Porto de Lisboa, S.A.), o problema tende, naturalmente, a agravar-se.
Como se percebe, esta situação está a ser muito penalizadora tanto para os pescadores como para a própria
sobrevivência desta atividade económica, mas também para o País, e, por isso mesmo, é preciso tomar medidas
de forma a evitar o pior. Em causa estão postos de trabalho, está uma atividade económica em risco e também
uma parte da nossa produção local, com todas as consequências que daí decorrem. Por isso, Sr.ª Ministra, seria
importante que se pronunciasse sobre esta matéria.
Para terminar, queríamos trazemos ao debate o problema grave da sustentabilidade económica e ambiental,
mas também de saúde pública, que representa a apanha ilegal de ameijoa no Tejo.
A Sr.ª Ministra anunciou a construção da depuradora no Barreiro, mas nada mais sabemos sobre essa
construção, nomeadamente quanto aos prazos e quanto à sua execução. Aliás, mesmo contando com essa
depuradora, consideramos que o problema não vai ficar resolvido, porque continuamos sem fiscalização e sem
regras claramente definidas nesta matéria.
Recordo que, além de tudo o mais, existem já situações muito próximas daquilo que podíamos designar por
quase redes de escravatura nesta atividade e, portanto, haveria todo o interesse em que a Sr. Ministra nos
falasse sobre as medidas que o Governo pondera desenvolver para resolver este grave problema, que é um
problema económico, é um problema social mas é também um problema de sustentabilidade ambiental.