I SÉRIE — NÚMERO 77
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pontuado de debilidades políticas, de escândalos económicos e de repressões sociais para a ditadura militar de
1926, depois projetada na Constituição de 1933.
Claro que a História ultrapassa largamente este sumariar de um período de anos de guerra, que se
prolongaram por muitos mais, e qualquer paralelo com o que viria a ser Portugal nos anos 60 e 70, ou nos anos
80 e 90, ou neste século XXI é obviamente passível de justos e incisivos reparos.
Ainda assim, seja-me permitido sublinhar alguns traços que poderão suscitar reflexões para outras épocas e
nelas o presente e o futuro de Portugal.
Primeira reflexão: a Europa perdeu sempre ao dividir-se e ganhou, por pouco que fosse, ao unir-se ou, pelo
menos, ao ensaiar convergências, ao prevenir a guerra e sedimentar a paz, sendo que o percurso para essas
convergências, para essa paz foi e é necessariamente exigente, moroso, ainda quanto desafiante, e nunca deva
esquecer o mais importante, os europeus, em nome dos quais se constrói a Europa.
Segunda reflexão: as Forças Armadas portuguesas constituem um fator nuclear de identidade nacional, nos
tempos de bonança como nos de provação, tão forte que há 100 anos os agravos que sofreram aceleraram o
fim da I República, mesmo se tornaram impossível o regresso a um regime monárquico, tão forte hoje que se
configura como indissociável da democracia.
Por isso mesmo, a instituição militar, algumas vezes apressada e erroneamente vista por alguns como
reminiscência do passado e não como garantia do presente e aposta no futuro, mantém, para não dizer que
reganha, centralidade quando se reforça a democracia ou mais amplamente se constrói a unidade nacional.
Afirmá-lo sempre é imperativo, agir em conformidade é-o ainda mais.
Terceira reflexão: a capacidade de renovação do sistema político e de resposta dos sistemas sociais de
antecipação de desafios, de prevenção de erros ou omissões, de permanente proximidade dos cidadãos e dos
seus problemas é essencial para evitar fenómenos de lassidão, de contestação inorgânica e antissistémica e de
ceticismo contra os partidos e os parceiros económicos e sociais, isto sendo certo que numa democracia viva
os mais decisivos dos políticos são e devem ser os cidadãos.
Não o minimizemos! Os vazios que venham a ser deixados pelos protagonistas institucionais alimentarão
tentações perigosas de apelos populistas e até de ilusões sebastianistas, messiânicas ou providencialistas.
Ora, mesmo que esses apelos e ilusões acreditem que o poder forte sonhado, seja ele de uma pessoa, de
um partido, de um grupo económico, de um parceiro social, de uma instituição pública ou privada, é compatível
com a democracia, certo é que a deriva resultante seria sempre não democrática.
A democracia supõe um equilíbrio de poderes, feito de pesos e de contrapesos. É esse equilíbrio que permite,
mesmo nas democracias mais antigas, moderar tropismos para lideranças populistas na forma ou no conteúdo.
No dia em que se rompesse o equilíbrio de poderes, a que a nossa Constituição chama separação e
interdependência de poderes, estaríamos a entrar em terreno perigosíssimo, propício ao deslumbramento, ao
autoconvencimento, à arrogância, ao atropelo da própria Constituição, das leis e dos direitos das pessoas.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Felizmente, 100 anos depois, vivemos já o suficiente, entre a década
de 20 do século passado e o começo deste século, para sabermos o que reforça a nossa unidade nacional,
nomeadamente o papel estruturante das Forças Armadas, a necessidade de constante renovação do sistema
político, a criação sustentada de condições de crescimento e de emprego, a aguda perceção da realidade social
e, nela, da pobreza, do seu risco e das desigualdades pessoais e territoriais, o eficiente combate à corrupção
nas pessoas e nas instituições, a sistemática prevenção dos messianismos de um ou de alguns alegadamente
para salvação dos outros.
Por isso, não confundimos o patriotismo, de que nos orgulhamos, com hipernacionalismos claustrófobos,
xenófobos, que nos envergonhariam, nem confundimos o prestígio ou a popularidade mais ou menos conjuntural
de um ou mais titulares do poder com endeusamento ou vocação salvífica.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Lembramo-nos bem como, há 100 anos, uma situação política, económica, social e cultural mal resolvida
desembocou em décadas que prometiam o que, mais tarde, além de sacrificarem direitos e liberdades
inalienáveis, se viu não poderem cumprir: o império colonial eterno, a ditadura monocrática viva para além do
seu criador, a certeza de que a alegada felicidade interna dispensaria integrações num continente e num mundo