I SÉRIE — NÚMERO 87
14
Têm surgido legítimas dúvidas e preocupações, por parte de setores da população, de agentes económicos
e de autarquias, relativamente às atividades de pesquisa e prospeção de petróleo e gás natural ao largo da
costa algarvia e da costa alentejana. Tais dúvidas e inquietações tornam ainda mais necessária a avaliação dos
riscos ambientais e do impacto noutras atividades económicas.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Concluo já, Sr. Presidente.
Essas avaliações devem ser amplamente divulgadas e debatidas para ponderar, de forma esclarecida, as
vantagens e desvantagens, a oportunidade e as condições do aproveitamento de eventuais recursos energéticos
existentes no Algarve e no Alentejo. Só com estas avaliações e esse debate é que o País estará em condições
de tomar uma decisão esclarecida que salvaguarde os interesses nacionais.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Vasconcelos, do Bloco de
Esquerda.
O Sr. João Vasconcelos (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro do Ambiente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as
e Srs. Deputados: Foi verdadeiramente escandaloso, uma vergonha, o que o anterior Governo PSD/CDS, pela
mão do antigo Ministro do Ambiente Moreira da Silva, fez em matéria de concessões petrolíferas: cinco ou dez
dias antes das eleições legislativas assinou contratos no maior segredo, o que foi uma autêntica vergonha. Se
não fosse a luta das populações, dos autarcas, das associações ambientalistas, ainda hoje teríamos muitos
desses contratos. Foi essa luta que imperou e anulou vários desses contratos.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
O Sr. João Vasconcelos (BE): — Infelizmente, nesta matéria, o atual Governo está a tornar-se também uma
desilusão.
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Mais uma!
O Sr. João Vasconcelos (BE): — Como é possível que a Agência Portuguesa do Ambiente, logo, o Ministério
do Ambiente e o Sr. Ministro ignorem a vontade das populações, a luta dos autarcas, das associações e de
diversas personalidades e entidades?
Mais de 42 000 pessoas já se tinham manifestado contra a abertura do furo de Aljezur. De facto, o que temos
aqui não pode acontecer!
Apesar disso, o Governo concedeu uma licença ao consórcio Galp-Eni. Como se sabe, a prospeção e a
exploração de hidrocarbonetos junto a áreas protegidas irão representar um sério risco tanto para essas áreas
classificadas e protegidas, como, por exemplo, para as atividades económicas, o turismo, a agricultura, a saúde,
portanto, para as populações.
Há o perigo de infiltração em aquíferos e cursos de água e ficarão em causa, de facto, as atividades
económicas, como disse.
O País tem de apostar na descarbonização da economia, no paradigma de reverter as energias fósseis para
energias renováveis. É necessário que o Governo cumpra aquilo com que se comprometeu na Conferência de
Paris, mas não é isso que estamos a ver.
No mínimo, o que se impunha agora era uma avaliação de impacte ambiental. Sr. Ministro, o que existiu foi
uma farsa, foi uma palhaçada: cerca de 1600 pessoas disseram que não queriam exploração de
hidrocarbonetos.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo.