I SÉRIE — NÚMERO 87
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criação de postos de trabalho e o combate ao desemprego. A redução do horário de trabalho para as 35 horas
semanais para todos os trabalhadores coloca a necessidade de mais 440 000 trabalhadores para cumprir as
mesmas horas de trabalho anuais. Esta proposta combate o desemprego, aumenta o poder de compra e reforça
as contribuições para a segurança social.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: A produtividade de um país não depende em primeira linha do número de
horas de trabalho — se assim fosse, Portugal seria dos países mais produtivos da Europa —, depende
essencialmente de fatores como a modernização do processo produtivo, a formação, a organização de
estratégias de produção, a motivação e, muito importante, o respeito pelos direitos.
A OIT, Organização Internacional do Trabalho, afirma de forma clara que o respeito pelos direitos dos
trabalhadores e a melhoria das condições de trabalho influenciam diretamente a produtividade. Hoje, passados
132 anos do primeiro 1.º de Maio, é de uma imensa atualidade a luta pelo emprego com direitos e por horários
que respeitem a vida pessoal, familiar e profissional.
Cada dia que passa em que se mantêm intocáveis as normas mais gravosas da legislação laboral é um dia
a menos para o desenvolvimento do País. Em cada momento que o PS se alia ao PSD e ao CDS para manter
intocável a legislação laboral são os trabalhadores e o País que perdem.
Temos hoje nas nossas mãos uma decisão muito importante: a de estabelecer as 35 horas para todos. O
PCP estará hoje, como sempre, do lado certo, com os trabalhadores, os seus direitos, o progresso e a justiça
social.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra o Sr. Deputado André Silva, do PAN, para apresentar a
sua iniciativa.
A tribuna é sua, Sr. Deputado.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Vivemos numa sociedade de pré-
abundância assente na alta produtividade tecnológica. Porém, contrariamente ao expectável, as condições
laborais têm vindo a degradar-se ao longo dos anos e, associadas a uma elevada precariedade e a longas
jornadas de trabalho, levam muitos cidadãos a ter de escolher entre a carreira profissional ou a vida pessoal e
familiar.
De acordo com dados da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico) referentes a
2013, Portugal, com uma média de 39 horas e meia por semana, só fica atrás da Grécia no ranking dos países
que mais trabalham na Europa, estando bem acima da média da União Europeia, que se situa nas 37 horas.
Segundo a mesma entidade, Portugal ocupa a 10.ª posição numa lista composta por 38 países com a maior
carga horária laboral, trabalhando-se 1868 horas por ano, mais 102 horas que a média dos países da OCDE.
A elevada carga horária tem consequências graves na vida das pessoas. Os pais veem-se submetidos a um
ritmo alucinante, trabalhando todo o dia, muitas vezes por turnos, ficando com pouco tempo e disponibilidade
para estarem com os filhos e com a sua família. Os tempos de descanso e de lazer são cada vez menos e com
menor qualidade.
Cientificamente, sabemos que a eficiência e a produtividade estão diretamente dependentes do grau de
satisfação dos cidadãos quanto às condições laborais oferecidas, pelo que a redução da carga horária, e, em
consequência, a possibilidade de a pessoa empregada conseguir ter maiores períodos de descanso e lazer,
está diretamente associada a uma maior produtividade.
A verdade é que os trabalhadores de países como a Alemanha, a Holanda ou o Reino Unido trabalham
menos tempo do que a média europeia, estando estes países entre os mais competitivos do mundo, o que
demonstra não ser verdade que uma maior produtividade apenas seja possível com elevadas cargas horárias.
Acresce a estes factos que, dentro da Administração Pública, já caminhámos para a implementação de uma
redução da carga horária para as 35 horas, pelo que consideramos ser de elementar justiça fazê-lo para o setor
privado.
Assim, o PAN propõe a redução do período normal de trabalho no setor privado das atuais 40 para 35 horas
semanais. Vemos esta medida como necessária enquanto forma de garantir a igualdade entre todos os
cidadãos…