19 DE MAIO DE 2018
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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. André Silva (PAN): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Como dizia, vemos esta medida como necessária enquanto forma de garantir a igualdade entre todos os
cidadãos, equiparando o regime que vigora para o setor privado com o da função pública, bem como enquanto
meio de valorização destes profissionais, atribuindo-lhes mais direitos, criando melhores condições laborais e
permitindo ambientes de trabalho mais saudáveis.
Em suma, nesta sociedade cada vez mais abundante em bens e serviços, o que mais escasseia é aquilo de
que mais precisamos: tempo para viver.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para apresentar a iniciativa de Os Verdes, tem a palavra o Sr. Deputado
José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Dando expressão à
ideologia neoliberal, que foi, aliás, o farol de orientação em todas as suas decisões políticas, o Governo
PSD/CDS impôs as suas regras e princípios gerais em matéria de duração e horário de trabalho na
Administração Pública. Dessa alteração resultou que a duração e o horário de trabalho na Administração Pública
passasse de 7 para 8 horas por dia e de 35 para 40 horas por semana.
Mas, ao mesmo tempo que impôs o aumento do período normal de trabalho para os trabalhadores da
Administração Pública, o Governo anterior dirigiu também uma forte ofensiva contra os trabalhadores do setor
privado, nomeadamente através de mecanismos para fragilizar substancialmente a contratação coletiva. Ora,
este esforço, ou melhor, este ataque claro, e até inédito, em termos de dimensão, à contratação coletiva por
parte do Governo PSD/CDS teve objetivos muito claros, desde logo, o de facilitar a desregulação dos horários
de trabalho no setor privado, com todas as consequências que daí decorrem no que diz respeito ao agravamento
da exploração de quem trabalha.
Com o novo quadro parlamentar e a necessidade de procurar valorizar o trabalho, foi já possível, através de
iniciativas de vários grupos parlamentares, nomeadamente do Partido Ecologista «Os Verdes», repor as 35
horas semanais para os trabalhadores da administração central e local. Ou seja, os trabalhadores da
Administração Pública recuperaram, assim, um direito que lhes tinha sido retirado pelo anterior Governo,
voltando a estar em sintonia com os avanços civilizacionais. Aliás, a este propósito, convém recordar que, já
quando discutimos a passagem das 40 horas para as 35 horas semanais para os trabalhadores do setor público,
Os Verdes propuseram na sua iniciativa legislativa as 35 horas também para o setor privado, proposta que
acabou por não ser acolhida.
Mas a recuperação desse direito por parte dos trabalhadores da Administração Pública tem de ser entendido
também como um sinal claro de disponibilidade para se proceder à redução do horário de trabalho para as 35
horas semanais para os trabalhadores do setor privado.
De facto, a duração semanal do trabalho constitui uma concretização de direitos constitucionalmente
consagrados, em função do princípio da dignidade da pessoa humana, do direito ao repouso e da necessidade
de conciliar a vida profissional com a vida familiar.
Recorde-se, a este propósito, que a nossa Constituição refere que a organização do trabalho deve ser feita
em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal e permitir a conciliação da
atividade profissional com a vida familiar.
Os Verdes entendem assim que a redução para as 35 horas como limite máximo do horário de trabalho para
os todos trabalhadores, sem qualquer redução remuneratória ou perda de direitos, constitui não só um passo
importante para termos mais justiça social como representa, ainda, uma forma de nos aproximarmos dos
preceitos constitucionais, que valorizam a dignidade da pessoa humana, o direito ao repouso e a conciliação da
vida profissional com a vida familiar. Mas também se assume como um forte contributo no combate ao
desemprego.
Para terminar, não em jeito de recado mas em jeito de apelo ao bom senso e à coerência, quero dizer o
seguinte: se o grande argumento do PSD e do CDS para colocarem os trabalhadores do sector público a
trabalhar 40 horas semanais residia na necessidade de harmonizar os horários de trabalho entre o sector público