I SÉRIE — NÚMERO 94
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Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe, do PCP, também para pedir
esclarecimentos.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Justiça, Sr.as Secretárias de Estado, Sr.
Secretário de Estado, o mote para esta interpelação, da parte do partido interpelante, poderia ser qualquer coisa
como isto: «Dos gravíssimos problemas que deixámos no sistema de justiça quando saímos do Governo, o que
é que os senhores já resolveram?» Poderia ser este o mote.
O balanço que fazemos é que o sistema de justiça hoje não está pior do que estava há dois anos e meio —
efetivamente, não está. O Governo PSD/CDS, com as medidas que tomou em matéria de justiça e com algumas
vicissitudes — designadamente o colapso do Citius que se verificou a determinada altura —, deixou, de facto, o
sistema de justiça numa situação calamitosa, que teve como «joia da coroa», no pior sentido, o encerramento
de tribunais que marcou a Legislatura passada.
Podemos dizer que nessa matéria houve mudanças que se verificaram, designadamente no início da
Legislatura, com a reabertura de tribunais. A Sr.ª Ministra fez muito bem em anunciar hoje, aqui, como fez há
poucos dias na Comissão, uma melhor utilização dos atuais juízos de proximidade para acabar com alguma
sensação que existe no País de que os tribunais reabriram, mas pouco — enfim, que reabrem de vez em quando.
Portanto, é bom acabar com isso e que haja, de facto, uma maior utilização dos juízos de proximidade, alargando
as suas competências judiciais.
Mas, Sr.ª Ministra, é forçoso reconhecer que há questões de fundo que, efetivamente, não tiveram ainda
perspetivas de resolução, e isso não pode ser esquecido. Já passaram mais de dois anos e meio sobre o início
da Legislatura e há matérias que continuam a ser discutidas e a ser objeto de grupos de trabalho, mas que,
efetivamente, não conheceram ainda perspetivas de resolução.
Uma dessas matérias é o problema do acesso ao direito. O que se passou com o acesso ao direito,
designadamente em matéria de custas judiciais, foi que o atual Bastonário da Ordem dos Advogados, na tomada
de posse, colocou essa questão de uma forma muito enfática, o que levou, até, a que houvesse iniciativas de
praticamente todos os grupos parlamentares nesta Assembleia relacionadas com essa matéria.
Ora, aquilo que se avançou foi apenas aquilo que se aprovou no Orçamento do Estado, por proposta do
PCP, no sentido de desindexar as custas judiciais do IAS (indexante dos apoios sociais) para que o seu aumento
não implicasse o aumento das custas judiciais. Houve um congelamento do valor das custas judiciais, que foi o
que propusemos, e, obviamente, saudamos esse avanço. Mas há que reconhecer que, em matéria de custas
judiciais, há muito mais a fazer, porque este é um grave estrangulamento do acesso de largas camadas
populacionais ao direito e aos tribunais.
Existe um grupo de trabalho para tratar esta matéria, que carece de uma intervenção de fundo, cujas
conclusões ainda não foram tornadas públicas. Há pessoas que não têm possibilidades económicas para aceder
aos tribunais, pelo que não podem beneficiar de assistência judiciária, e também não têm meios financeiros para
custear uma lide judicial, o que deixa muitas pessoas de fora do acesso a uma tutela jurisdicional efetiva.
Sr.ª Ministra, há problemas gravíssimos de pessoal que estão por resolver. Houve, de facto, alguns
acréscimos de admissões em matéria de funcionários judiciais e de guardas prisionais, mas há que assegurar
uma entrada regular de profissionais no sistema que vá colmatando as naturais saídas profissionais por razões
de idade.
Na Polícia Judiciária, não só menos de metade dos quadros estão preenchidos como os efetivos têm uma
média de idades de 48 anos, o que significa que ou há entradas regulares nestas instituições ou, então, a
situação não deixará de se agravar. A Polícia Judiciária tem qualquer coisa como 1150 efetivos para um quadro
que devia ser de 2500 e acontece o mesmo nos tribunais, no sistema prisional, nos Registos e Notariado…
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Atenção ao tempo, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente.