I SÉRIE — NÚMERO 100
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Fez-se isso, virando cinicamente pobres contra pobres, jovens contra os mais velhos e invocando dois
argumentos falaciosos: aquele segundo o qual a segurança social pública seria insustentável em função das
alterações demográficas e do envelhecimento — «cuidado com a ‘peste grisalha’», dizia um Deputado do PSD
— e um outro argumento, segundo o qual cortar rendimentos e pensões era uma forma de melhorar a
sustentabilidade do sistema.
Nada mais falso. A sustentabilidade da segurança social é um problema eminentemente económico e é uma
manipulação do debate absolutizar o argumento demográfico.
As ameaças à segurança social nunca foram os pensionistas. O que ameaçou a sustentabilidade da
segurança social foi o crescimento do desemprego e o encerramento de empresas, foi a precariedade e formas
de trabalho fora do contrato social, foram os salários baixos que significam menos contribuições, foi a emigração,
que retirou do País massa crítica, capacidade de trabalho e, naturalmente, contribuições.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Tirou e ainda tira! E tira!
O Sr. JoséMouraSoeiro (BE): — A grande ameaça para a segurança social foi a espiral de empobrecimento
em que o PSD e o CDS mergulharam o País.
No final de 2015, mudou o Parlamento e, com uma nova maioria, travou-se essa espiral. A recuperação de
rendimentos provou ser, contra o que tanta gente da direita e do centro dizia, uma condição para resgatar a
segurança social pública.
Nos últimos anos, houve propostas importantes da esquerda que provaram este caminho.
O aumento do salário mínimo e o efeito da recuperação de rendimentos na criação de emprego são um
exemplo.
Mas há outros.
Por acordo com o Bloco de Esquerda, foi descongelada a lei de atualização automática das pensões.
Em 2017 e em 2018, a maioria parlamentar aprovou uma atualização extraordinária para as pensões que
tivessem aumentos abaixo dos 10 €.
Por acordo com o Governo, fizemos, em 2017, uma atualização extraordinária do complemento solidário para
idosos, que voltou a subir este ano, para voltarmos a trazer para esta prestação os 70 mil idosos que foram
retirados do CSI pelo PSD e pelo CDS.
No Orçamento de 2018, incluímos um complemento de pensão para os «lesados de Mota Soares», ou seja,
os pensionistas condenados à pobreza pelo CDS-PP e pelas regras das pensões antecipadas.
Começámos a fazer justiça a quem tem longuíssimas carreiras contributivas, ou seja, uma vida inteira de
descontos. Esse processo só não avançou mais este ano porque o Governo e o Partido Socialista estão agora
a bloquear e a atrasar a segunda e a terceira fase do novo regime para as pensões antecipadas, com que, aliás,
se tinham publicamente comprometido.
Mudámos o regime de contribuições dos trabalhadores independentes, dos trabalhadores a recibo verde.
A 1 de julho, daqui a três ou quatro dias, entra em vigor o novo regime de proteção social, com mais proteção
no desemprego, na doença e no acompanhamento a filhos.
Mas a recuperação de rendimentos teve outro efeito: significou também maior receita para o Estado e maior
receita para a segurança social.
Para este ano, o Orçamento prevê um acréscimo de 883 milhões de euros em contribuições para a segurança
social. A isso soma-se ainda o acréscimo resultante do IVA social — 27 milhões —, do adicional ao IMI — o
«imposto Mortágua» sobre os bens imobiliários de luxo (50 milhões) — ou a parte da taxação dos lucros das
empresas que, desde o início deste ano, e por decisão desta Assembleia, reverte para o Fundo de Estabilização
Financeira da segurança social — 70 milhões.
E isto leva-nos ao que temos por fazer.
Quando falamos sobre a diversificação das fontes de financiamento da segurança social é porque queremos
reforçar e diversificar as respostas sociais e a proteção de quem trabalha.
Estão há meses neste Parlamento, em debate na especialidade, os projetos de lei sobre o trabalho por turnos.
É também um debate sobre segurança social, sobre reconhecimento da penosidade, sobre acesso à reforma
capaz de reconhecer o desgaste deste regime de trabalho. Tem de avançar.