29 DE JUNHO DE 2018
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Está há meses à espera de resposta do Governo a petição dos trabalhadores das pedreiras e o
reconhecimento da penosidade da sua profissão. Tem de avançar.
Aos trabalhadores com mais de 40 anos de carreira contributiva o Governo disse que iria acabar com o corte
de sustentabilidade, mais de 14%, no valor da pensão de velhice. Mais, a proposta chegou a ser apresentada
em concertação social e prevê também a redução da idade legal de reforma em função dos anos de
contribuições. Tem de avançar.
Os cuidadores e as cuidadoras informais aguardam com expectativa o reconhecimento dos cuidados que
prestam, por via de um estatuto que, entre outras coisas, valorize as suas pensões, reconheça os cuidados
prestados e reforce os apoios sociais que a segurança social atribui aos cuidadores. Tem de avançar.
O argumento do Partido Socialista para o facto de tantos destes processos estarem em stand-by aqui, na
Assembleia da República, é o argumento financeiro. Pois bem, aqui estamos a fazer esse debate sobre
financiamento.
Existem hoje receitas. E existem propostas concretas para diversificar a fonte dessas receitas, de modo a
responder às necessidades de quem trabalha, de quem é pensionista, de quem é cuidador e cuidadora.
Esta intenção de diversificação consta, aliás, do programa do Partido Socialista. Por isso, a pergunta feita
neste debate é pertinente: vai o Partido Socialista ser coerente com esse compromisso ou adiar, mais uma vez,
ações concretas neste domínio?
Numa das medidas previstas no programa, o Partido Socialista e o Governo já deram um mau exemplo na
taxa de rotatividade. Desde 2009, o Código Contributivo prevê um agravamento de 3% na contribuição patronal
dos contratos a termo, mas esta medida nunca foi aplicada, tal a resistência das empresas. A modelação da
TSU (taxa social única) em função do tipo de contrato permitiria arrecadar, de acordo com contas de Mário
Centeno, 1000 milhões de euros em 4 anos de receita para segurança social. São as contas do Ministro das
Finanças: 350 milhões no primeiro ano, 250 no segundo, 200 em cada um dos outros anos.
Mas, para ir ao encontro do interesse dos patrões, o Governo introduziu, sucessivamente, formas de anular
o efeito e a eficácia desta medida. Como? Começou por estabelecer que a taxa era, afinal, de 2%, no máximo,
e que o seu valor seria progressivo em relação ao afastamento da média de rotatividade utilizada por cada setor.
Depois, propôs que não abrangesse todos os contratos: não entram os contratos temporários nem de muito
curta duração e, dos contratos a prazo, não se percebe quais é que entram, porque o Governo colocou na
proposta que entregou sobre esta matéria a seguinte exceção: «Não são considerados todos os contratos a
prazo celebrados pelos condicionalismos inerentes ao tipo de trabalho ou à situação do trabalhador».
Protestos do Deputado do PS João Galamba.
Fica a pergunta: com tantas exceções, há alguma empresa que vá pagar a tal taxa de rotatividade?
Tendo em conta a satisfação dos patrões, nomeadamente do turismo e da agricultura, dir-se-ia que não.
Aplausos do BE.
O outro debate é o que o PCP hoje aqui traz, com uma proposta consistente, bem desenhada e que
acompanhamos inteiramente.
Na verdade, a evolução tecnológica e dos modos de produção aconselha a que haja alterações ao
financiamento da segurança social para garantir a distribuição correta do esforço de financiamento do sistema.
Estas alterações não significam anular o contrato social intergeracional e o financiamento por via das
contribuições dos trabalhadores e dos empregadores.
Mas é preciso, como é proposto, acrescentar a essas contribuições a contribuição do capital intensivo, que
produz mais valor do que a mão-de-obra intensiva. É necessário reequacionar o modo de contribuição das
empresas. Por isso, com certeza, essas contribuições devem ser alargadas à riqueza criada pelas empresas,
complementando contribuições baseadas em salários com contribuições baseadas noutras componentes do
valor acrescentado. O que acontece, hoje, é que uma parcela cada vez maior da riqueza criada escapa ao
pagamento de contribuições. As vantagens, por isso, desta solução são duas: distribuir o esforço contributivo
das empresas e reforçar a segurança social, dando-lhe robustez e estabilidade.