I SÉRIE — NÚMERO 103
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O Sr. António Sales (PS): — Isso não é verdade, Sr. Deputado! Não é verdade!
O Sr. Luís Vales (PSD): — Dou-lhe apenas três exemplos, que comparam os anos de 2015 e 2017: a
mediana do tempo até à realização da primeira consulta hospitalar aumentou de 82 dias para 86 dias, um
agravamento de 5%;…
O Sr. João Marques (PS): — E quantas se fizeram a mais?
O Sr. Luís Vales (PSD): — … há mais 34 000 portugueses em lista de espera para uma operação no SNS,
um aumento de 17% — eram 197 000 em 2015 e eram 231 000 em 2017, aliás, só no último ano, aumentou,
em mais de 20 000, o número de utentes inscritos para cirurgia; o tempo de espera médio dos doentes para
cirurgia aumentou de 2,9 meses para 3,1 meses. Estes indicadores, Sr. Ministro, são graves e não podem ser
ignorados.
Por isso, pergunto-lhe, Sr. Ministro: que medidas vai o Governo tomar para reduzir os tempos de espera para
consultas e cirurgias no SNS? E que medidas vai tomar para inverter a atual tendência de aumento do número
de portugueses em lista de espera para uma operação no SNS?
Finalmente, Sr. Ministro, deixo-lhe uma última questão.
Entraram recentemente ao serviço, no INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica), cerca de uma
centena de técnicos de emergência pré-hospitalar. Tem sido referida a existência de problemas no que se refere
à formação prática, no terreno, dos referidos técnicos, designadamente, a falta de acesso a formação em
contexto de ambulância. Conhece e reconhece o Sr. Ministro este problema? E que medidas tenciona o Governo
tomar para resolver esta situação?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para formular as suas perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado
Paulo Sá, do PCP.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro da Saúde, a melhoria dos cuidados
prestados no Serviço Nacional de Saúde exige, com urgência, um reforço significativo — sublinho, significativo
— do investimento na conservação e reparação de equipamento hospitalar e na substituição de equipamento
obsoleto.
Efetivamente, Sr. Ministro, anos de ataque ao Serviço Nacional de Saúde, levado a cabo por sucessivos
Governos, com particular destaque para o anterior Governo PSD/CDS, traduziram-se numa profunda
degradação dos equipamentos hospitalares. Perante esta situação, que exigia medidas decisivas, a atuação do
Governo tem sido manifestamente insuficiente.
Veja-se, por exemplo, Sr. Ministro, o caso do Algarve: em 2016, o Sr. Ministro anunciou, com pompa e
circunstância, um investimento de 19 milhões de euros em equipamento no Centro Hospitalar Universitário do
Algarve para o triénio 2017-2019. Em 2017, dos 11 milhões de euros previstos, apenas foram executados 5,5
milhões, ou seja, menos de metade. Confrontado pelo PCP com esta situação, o Sr. Ministro reconheceu que o
Governo não cumpriu os objetivos de investimento e pediu desculpa aos algarvios.
Sr. Ministro, o reconhecimento de que não cumpriu os compromissos assumidos fica-lhe bem mas não chega.
Agora, é preciso dar o passo seguinte e traduzir esse reconhecimento num reforço significativo do investimento
nos hospitais do Algarve e de todo o País.
Por isso, pergunto-lhe: está o Sr. Ministro disponível para anunciar hoje, aqui, um reforço significativo desse
investimento? Ou vai dizer-nos outra vez que «somos todos Centeno», para justificar a prioridade dada aos
objetivos de redução acelerada do défice?!
Sr. Ministro, para o PCP, a prioridade nacional não é a redução acelerada do défice ou da dívida, a submissão
às imposições da União Europeia ou aos interesses dos grupos económicos que fazem da saúde um negócio.
Para o PCP, a prioridade é — só pode ser! — a resposta aos problemas das pessoas e do País, garantindo, em
particular, um Serviço Nacional de Saúde geral, universal, gratuito e de qualidade.