I SÉRIE — NÚMERO 104
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O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Deputado, tem de terminar.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Estou mesmo a terminar, Sr. Presidente.
É essa a perspetiva por que nos bateremos na continuação do trabalho legislativo a que houver lugar.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Vânia
Dias da Silva, do CDS-PP.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Justiça, Sr. Secretário de Estado
dos Assuntos Parlamentares, Sr.as e Srs. Deputados: A primeira palavra, Sr.ª Ministra, é de regozijo por,
finalmente, iniciarmos a discussão relativa ao Estatuto dos Magistrados Judiciais. Este é um assunto premente
de que já tínhamos falado várias vezes e espera por ver a luz do dia há anos. Como disse há pouco, é essencial
para cumprir a reforma judiciária iniciada em 2013, que, de resto, vinha sendo sucessivamente anunciada e que,
ao cabo de três anos de mandato, finalmente, aparece e regozijamo-nos por isso.
Queria também dizer, Sr.ª Ministra, que ela aparece tarde, aparece mal nalgumas matérias e aparece
frustrando as mais elementares expectativas. Não que seja uma surpresa, porque na verdade não o é. A aposta
do Governo na justiça existe de uma forma esparsa, como já temos conversado várias vezes, e nas poucas
coisas em que é visível não é, seguramente, nesta matéria.
Devo recordar uma crítica que é feita pelo PS no seu programa eleitoral ao anterior Governo — está escrito
com todas as letras: «A governação PSD/CDS na área da justiça, à época, preferiu sempre centrar-se nas
profissões jurídicas.» Esta é uma crítica que, para nós, é um cumprimento que deixa a nu uma opção política
muito clara e que VV. Ex.as não se têm cansado de praticar. Para VV. Ex.as, os operadores judiciários e todos os
profissionais da justiça são acessórios, são laterais e, muito pior, são desvalorizados e esquecidos pelo Governo.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr.ª Deputada Vânia Dias da Silva, agradeço-lhe que me dê
um instante.
Pedia aos Srs. Deputados que criassem condições para que pudéssemos ouvir a Sr.ª Deputada como
devemos ouvir.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Muito obrigada, Sr. Presidente. Compreendo que esta seja uma
matéria técnica, mas é uma matéria importante para o País e que tem vindo a ser desvalorizada sucessivamente.
Dizia-lhe, Sr.ª Ministra, que quando nós desvalorizamos peças centrais de qualquer sistema — as pessoas
— desvalorizamos todo esse sistema, porque o sistema é feito, precisamente, com essas pessoas. Não é só
online, no mundo sem papel, a que se reduz a intervenção do Ministério da Justiça, que a justiça tem de
funcionar.
De resto, a Sr.ª Ministra tem vivido, nos últimos anos, com uma espada sobre a cabeça — refiro-me às greves
anunciadas e que a Sr.ª Ministra tem vindo a evitar à 25.ª hora —, cuja lâmina está cada vez mais próxima.
Oficiais de justiça, guardas prisionais, conservadores e notários e também magistrados judiciais, todos sem
exceção, já ameaçaram com greve. Alguns deles já a praticaram e cumpriram e, a avaliar pelo estado da arte,
cumprirão ainda mais. Desta vez, já nem o Bloco de Esquerda, o PCP ou Os Verdes conseguem esconder e
justificar o injustificável.
Vozes do BE e do PCP: — Eh!…
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Andarão, certamente, nas ruas, indignados, a derramar lágrimas
de crocodilo, a fingir que estão ao lado daqueles, que, nas suas costas, ignoram, votando orçamento atrás de
orçamento, ao lado do Governo, que vinha para salvar as pessoas e que, afinal, as vem desprezando. Com uma
diferença que não é de somenos, Sr.as e Srs. Deputados: todos começam a perceber que quem lhes dá
palmadinhas nas costas são os que, ao lado do Governo, os deixam esquecidos, fazendo exatamente o contrário
daquilo que apregoam. Votam e, a seguir, vão dizer às pessoas que estão contra aquilo que acabaram de votar.