I SÉRIE — NÚMERO 106
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a fazê-lo, o que colocou o défice não nos 0,9%, mas nos 3%. Ora, tínhamos esta enorme incerteza e vivemos
com esta incerteza até para lá do fim do ano. Portanto, não foram as cativações, não foi nada disso. Foi, em
primeiro lugar, prudência, porque havia este fator de incerteza com a Caixa Geral de Depósitos; foi, em segundo
lugar, e felizmente, a subida, bastante acima daquilo que tínhamos estimado, do emprego e das contribuições
para a segurança social; e foi, em terceiro lugar, a descida, muitíssimo abaixo daquilo que tínhamos estimado,
dos juros.
Agora, chamo a sua atenção para o seguinte: como deve lembrar-se, ainda há alguns meses, tivemos aqui
uma discussão, a propósito do Programa de Estabilidade, sobre a folga que ia haver em matéria da taxa de juro.
Ora, poucos meses depois, a agitação criada em Itália, com a transição do Governo, teve um impacto muito
negativo nas nossas taxas de juro. Não foi por nada que tivesse a ver connosco, mas simplesmente pelo facto
de o novo Governo italiano se ter proposto inicialmente exigir um perdão de dívida muito avultado, o que fez
disparar as dívidas todas. Ora, essa folga, sobre a qual, há alguns meses, discutíamos muito, já não existe.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Se não havia folga, por que é que a criaram?!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Assim sendo, devemos ter a prudência de ir avançando, tendo em conta que,
pelo caminho, podemos ter incertezas que nenhum de nós pode prever e pelas quais nenhum de nós é
responsável mas com as quais temos de contar. É como quando se vai a conduzir numa estrada: os carros não
têm só acelerador, têm acelerador, têm travão e exigem prudência. O que o Código da Estrada diz é que a
velocidade máxima deve ser ajustada às condições de circulação na via, pelo que nem sempre se pode conduzir
a uma velocidade de 120 km na autoestrada, porque há alturas em que a autoestrada está congestionada e nós
não podemos circular a essa velocidade.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Mas também não se pode circular a menos de 50 km/hora!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Portanto, não temos de pôr o pé no travão mas, por vezes, temos de moderar o
acelerador, e é assim que iremos continuar a fazer.
Agora, não acreditem em tudo o que leem em alguns jornais. Por exemplo, não há nenhum aumento de 4400
milhões de euros de investimento na defesa, aquilo que há é o que consta do quadro que foi apresentado e
distribuído e que é o compromisso que tinha sido assumido em 2014, do qual temos agora uma tradução
sustentável e sabemos que atingirá 1,66% do Produto, em 2024, ou 1,98% do Produto, verificadas certas
condições de financiamento.
Agora, o que é mais importante, Sr.ª Deputada, é o que vamos fazer com esse dinheiro.
Protestos da Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia.
O que vamos fazer com esse reforço é investir no nosso sistema científico e na nossa indústria nacional.
Vamos investir na indústria naval e na indústria aeronáutica, que são as compras que nos comprometemos a
fazer, e na ciência, para, desde a cibersegurança à melhoria da qualidade do têxtil e do calçado técnico,
aumentar o potencial e a competitividade da nossa economia. É isso que devemos fazer de uma forma
inteligente, perante este desafio em matéria de defesa.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Vamos, agora, entrar numa nova fase do debate, em que há pedidos de esclarecimento
individuais dos diversos Deputados, relativamente aos quais o Sr. Primeiro-Ministro já informou a Mesa de que
responderá em conjunto.
A Mesa regista oito Srs. Deputados inscritos para esse efeito, o primeiro dos quais é o Sr. Deputado Emídio
Guerreiro, do Grupo Parlamentar do PSD.
Tem a palavra, Sr. Deputado.