I SÉRIE — NÚMERO 2
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O Sr. Ricardo Baptista Leite (PSD): — Nem os discursos nem os cartazes conseguem substituir as
necessidades das pessoas. Há pessoas a sofrer neste País e está na hora de os partidos se juntarem para
darem uma resposta adequada.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro
Delgado Alves.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O recente relatório do Varieties
of Democracy, da Universidade de Gotemburgo, sublinhou, no quadro da qualidade da democracia e avaliando
vários elementos, como a abertura do sistema, a garantia de direitos fundamentais de participação política, os
processos eleitorais, a valorização da igualdade e o funcionamento das instituições, que Portugal tinha um muito
positivo 10.º lugar em mais de duas centenas de países objeto de avaliação.
Num quadro global em que, infelizmente, assistimos à degradação de instituições democráticas em muitos
países — e em muitos países onde, há uns anos, não esperaríamos esse resultado e esse desfecho —, alguns
colegas, até, de integração europeia, este resultado deve, de facto, ser enfatizado como valorizador do trabalho
que a Constituição de 1976 e os vários responsáveis políticos, de todos os partidos políticos, ao longo das várias
décadas, têm conseguido alcançar.
No entanto, num momento em que estas pulsões autoritárias que cercam a Europa e que, por vezes,
procuram limitar a liberdade de imprensa e condicionar a independência da justiça, e em que se cavalgam de
forma populista extremismos xenófobos, de facto, cavalgar também o descontentamento dos cidadãos leva a
que muitas vezes se projetem nas instituições democráticas, nas instituições da democracia, aspetos para os
quais ela tem de encontrar mecanismos para se defender, não estando nenhuma democracia, mesmo aquelas
com bons resultados, como Portugal, imunes a estes ataques.
As instituições democráticas e republicanas devem, por isso, ser as primeiras a assumir a prioridade em
reforçar os laços com os cidadãos que estão na base da sua legitimidade, mantendo a iniciativa de se renovar
ciclicamente, proteger e recusar qualquer forma de populismo, não cedendo à quebra de princípios estruturantes
do Estado de direito democrático.
De facto, devemos investir na defesa do interesse público, devemos reforçar a salvaguarda do princípio
republicano no exercício de funções públicas e devemos promover um aumento substancial da transparência
da atividade governativa como forma de assegurar que os cidadãos podem escrutinar os seus representantes e
que pode, de facto, haver a prestação de contas, que enriquece e robustece a democracia.
Neste preciso contexto, a Assembleia da República retoma, nesta que é a última Sessão Legislativa da
presente Legislatura, os trabalhos parlamentares da Comissão Eventual para o Reforço de Transparência nas
Funções Públicas, algo que pode ser, de facto, uma reforma abrangente e importante, que possa ir ao encontro
das exigências do momento.
Seguindo o caminho trilhado no seu programa eleitoral, o PS promoveu a constituição da Comissão, bem
como apresentou inúmeras propostas relevantes para reforçar no nosso ADN democrático muito daquilo que
encontramos como boas práticas noutros países europeus e como boas práticas nas instituições da União
Europeia.
Muito trabalho se tem feito ao longo dos dois anos de vida que a Comissão já leva, muito se tem feito ao
nível de audições, de preparação de apresentação de propostas, de trabalho, já de especialidade, mas, de facto,
chegámos a um patamar importante em que todos devemos encarar como prioritária, como urgente e como
relevante a conclusão, a bom porto, dos trabalhos desta Comissão.
Efetivamente, muito já foi discutido, muitos dos aspetos fundamentais, estruturantes daquilo que se pretende
desta reforma em matéria de incompatibilidades ou de transparência, tem vindo a ser discutido, mas nos
próximos meses teremos oportunidade de encerrar este dossier e ter a capacidade de oferecer uma reforma
global.
Vejamos o que foi alcançado e quais são os desafios que temos pela frente.