I SÉRIE — NÚMERO 9
48
É isto que Os Verdes consideram importante saber. O Sr. Primeiro-Ministro abordou esta questão na sua
intervenção inicial, mas pareceu-nos que não ficou muito claro. Por isso, Sr. Primeiro-Ministro, gostaríamos que
dissesse alguma coisa sobre esta matéria.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António
Ventura.
O Sr. António Ventura (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, falemos do
Quadro Financeiro Plurianual e das regiões ultraperiféricas, das expectativas que foram criadas e de alguns
factos que nos preocupam relativamente a essas mesmas expectativas e ao desfecho no futuro.
O primeiro facto tem a ver com a posição preliminar que Portugal enviou para a Comissão Europeia, em que,
em apenas quatro linhas e meia, cabem todas as reivindicações das regiões ultraperiféricas, ou seja, não está
lá nada. A preocupação de Portugal com as suas regiões ultraperiféricas é manifestada em quatro linhas e meia.
Ou seja, nós partimos coxos, partimos de uma posição de fragilidade e esta é uma atitude lesiva para as regiões
ultraperiféricas.
O segundo facto tem a ver com a evidência que recentemente foi apresentada em Bruxelas: a revisão do
instrumento financeiro Mecanismo Interligar a Europa. Neste documento, por incrível que pareça, o Governo
português inscreveu a extensão do corredor Atlântico unicamente para a via navegável do Douro. Ou seja, as
regiões ultraperiféricas, com tantos portos e aeroportos, não estão lá. Houve um esquecimento. É um
esquecimento propositado, Sr. Primeiro-Ministro? Ou é um esquecimento que resulta daquilo que tem sido o
desleixo do Governo português relativamente às regiões ultraperiféricas? Porquê esse esquecimento? Por que
é que as regiões ultraperiféricas, com tantos portos e aeroportos, com tantas infraestruturas que necessitam de
apoio, de cofinanciamento, não estão neste documento?
Finalmente, algo que é fundamental para as regiões ultraperiféricas: o POSEI (Programa de Opções
Específicas para fazer face ao Afastamento e à Insularidade das Regiões Ultraperiféricas). Como sabe, o POSEI
é fundamental e insere-se numa atitude mais vasta que consta do artigo 349.º do Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia. De que modo é que o Governo português vai conseguir aprofundar, vai
conseguir tirar partido do 349.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, que todos estamos de
acordo que se trata de um artigo que não está a ser devidamente utilizado?
Recordo que o Governo anterior conseguiu aumentar as verbas do POSEI. Portugal estava numa situação
muito frágil, mas as verbas do POSEI foram aumentadas.
Vozes do PSD: — Bem lembrado!
O Sr. António Ventura (PSD): — Portanto, o que pretendemos saber — e essa é a pergunta que importa
fazer ao Governo português — é qual vai ser a atitude, a estratégia, a reivindicação para criar outros POSEI, ao
abrigo do artigo 349.º. O Sr. Primeiro-Ministro, há pouco, falou na crise dos laticínios. Ora, aí está: utilize o artigo
349.º para os Açores, a favor das regiões ultraperiféricas, na complementaridade comercial entre as duas
regiões.
Ou seja, é pouco, é muito poucochinho, se o Sr. Primeiro-Ministro unicamente assegurar as verbas do POSEI
atual. Mas seja criativo, Sr. Primeiro-Ministro, e encontre outras formas de apoio e de ajuda à agricultura, mesmo
no intercâmbio comercial entre as duas regiões.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. António Ventura (PSD): — É isto o que hoje está em causa. Estão em causa as expectativas que
foram criadas e aquilo que vai ser o desfecho do próximo Quadro Financeiro Plurianual.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Agradeço-lhe que terminar, Sr. Deputado.
O Sr. António Ventura (PSD): — E é isto o que hoje está em jogo. Está em jogo a vossa habilidade negocial.
Ora, é esta habilidade negocial que, até agora, perante os factos, tem sido um desaire.