11 DE OUTUBRO DE 2018
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Como a realidade demonstra, o aprofundamento da União Económica e Monetária, do euro, representará,
inevitavelmente, o acentuar da divergência económica e social no seio da zona euro.
A denominada «reforma do euro», com a implementação da união bancária, significará: a usurpação dos
Estados do controlo deste setor estratégico e a concentração monopolista do setor financeiro; a criação de uma
espécie de FMI europeu, através da transfiguração do Mecanismo Europeu de Estabilidade, que será um
instrumento para o reforço de um mecanismo de domínio e chantagem económica, com as suas práticas e
condicionalidade política; ou ainda a criação de instrumentos de estabilização, que acentuarão os mecanismos
de ingerência da União Europeia nas decisões soberanas dos Estados.
Esta denominada «reforma do euro», se concretizada, acentuaria os graves constrangimentos e imposições
já hoje existentes, associados ao euro e à União Económica e Monetária, quando a resposta aos problemas do
País exige, pelo contrário, a sua libertação destes constrangimentos e imposições.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado
José Luís Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A discussão em torno do
estado da União tem forçosamente de passar por uma análise do caminho seguido até aqui, uma análise e um
balanço das prioridades e das políticas que a Europa tem vindo a desenvolver.
E, do ponto de vista de Os Verdes, a questão central nesta discussão é saber quem são os verdadeiros
destinatários das políticas europeias. É que, apesar de não ter sido esse o caminho prosseguido até aqui, a
grande preocupação dos decisores europeus terá de passar pela procura de caminhos para melhorar a vida dos
povos europeus, procurar, através das suas políticas, a justiça social e o desenvolvimento sustentável. Ou seja,
os povos europeus têm de passar a constituir o centro das preocupações da Europa.
Mas o que nós vemos é que a Europa continua a fazer um grande esforço para continuar a alimentar os
mercados e a engordar o setor financeiro, ignorando completamente os povos europeus e os cidadãos. E com
uma agravante: é que este esforço, como é notório, tem vindo a exigir um sacrifício sem precedentes aos povos
europeus.
Portanto, na perspetiva de Os Verdes, a Europa tem de começar a olhar para as pessoas, tem de assumir o
crescimento e o emprego como prioridades absolutas, tem de incluir a solidariedade e a coesão social no seu
vocabulário e nas suas prioridades, e tem de estancar esta onda de transferência de soberania dos Estados-
Membros para a União Europeia, porque a democracia tem de continuar a ser uma premissa indispensável na
construção da União Europeia.
Sr. Primeiro-Ministro, na agenda deste Conselho vai estar, mais uma vez, a questão das migrações. A União
Europeia diz — e já diz há muito tempo, quanto a nós até há tempo de mais, mas vai dizendo — que está a
intensificar esforços para criar uma política de migração que seja eficaz e segura e, já agora, acrescento,
também solidária.
Ora, o Conselho Europeu desempenha aqui um papel importante, porque é o órgão que define as prioridades
estratégicas da União Europeia. De facto, a Europa continua a viver uma grande crise humanitária, uma crise
muito preocupante, que envolveu até situações de violência e inclusive de imposição de políticas discriminatórias
no acolhimento de refugiados, situações essas que violam todos os princípios e todos os valores que devem
presidir à construção de uma Europa que se quer solidária e respeitadora dos direitos humanos.
E se é verdade que a questão das migrações tem sido objeto de várias cimeiras europeias e tem estado na
agenda de muitos e sucessivos Conselhos Europeus, também é verdade que as respostas apresentadas pela
Europa não têm dado quaisquer resultados práticos.
Ora, neste quadro, a procura de uma solução efetiva, séria e determinada para o problema das migrações,
impõe-se como prioridade absoluta, mas uma solução que, na perspetiva de Os Verdes, não pode, de forma
alguma, passar pelo encerramento das fronteiras ou por limitações à livre circulação de pessoas.
Neste contexto, importa saber que posição vai o Governo português assumir na procura de uma solução
europeia comum e permanente, que, sobretudo, respeite os valores da paz e da solidariedade entre os povos,
em matéria de migrações.