11 DE OUTUBRO DE 2018
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força na Europa, será sempre mais na Europa, enquanto for um ator principal em África, nomeadamente nas
regiões de que estamos a falar.
Portanto, no CDS, esperamos que o Governo se assuma como esse interlocutor privilegiado no reforço das
relações entre os dois continentes. Pergunto, por isso mesmo, se o Governo está, ou não, empenhado e se no
próximo Conselho Europeu se vai mostrar empenhado nesse papel, que é um papel seu pela história, eu diria,
mas, acima de tudo, muito relevante para o nosso futuro coletivo.
O segundo aspeto muito relevante do discurso do Presidente da Comissão Europeia, e que também vai ao
próprio Conselho Europeu, é a necessidade de aprofundarmos a união económica e monetária, nomeadamente
concretizando a união bancária. Este ano passam 10 anos sobre o início da crise económica e financeira do
sub-prime. Os Estados Unidos já mudaram a sua arquitetura relativamente ao mercado financeiro e o Japão e
a China estão a preparar-se. Ora, apesar de já termos feito o diagnóstico, apesar de já termos identificado e
mapeado o caminho que temos de fazer para criar mecanismos que nos permitam fazer face a uma futura crise,
nomeadamente um mecanismo de garantia de depósitos e a supervisão financeira, a verdade é que, apesar de
tudo isso, não conseguimos, enquanto europeus, construir esses mesmos mecanismos.
Não abona muito a favor da União Europeia comprometer-se, como se comprometeu no ano passado, depois
do relatório do futuro da UEM (União Económica e Monetária), em adotar medidas concretas e, estado da União
atrás de estado da União, Conselho atrás de Conselho, vermos estas medidas permanentemente adiadas.
Por isso, faço-lhe uma pergunta muito concreta: o que podemos esperar deste Conselho, daqui até
dezembro, relativamente à construção destes instrumentos, que são vitais para as pequenas e médias empresas
poderem ter financiamentos, especialmente em economias mais periféricas como a economia portuguesa?
Sr. Primeiro-Ministro, ainda sobre o próximo Conselho Europeu, pergunto-lhe o que é que o Governo
português vai defender no capítulo das migrações, relativamente à vaga migratória que estamos neste momento
a receber da Venezuela.
Portugal não é o único país que está a acolher e a receber essa mesma vaga, há um conjunto de outros
países que o está também a fazer, mas é importante percebemos o que é que o Primeiro-Ministro vai defender
no Conselho relativamente à questão de muitos portugueses emigrantes, bem como de segundas e terceiras
gerações, que estão na Venezuela e querem a regressar a Portugal.
Segunda nota: o aspeto que mais flagrantemente esteve ausente do discurso do estado da União é o aspeto
do próximo Quadro Financeiro Plurianual, dos próximos fundos comunitários.
Continuamos sem perceber— é um mistério para nós! — como é que na política de coesão, comparando
com Portugal, que tem um PIB per capita de cerca de 77% da média europeia, países como o Luxemburgo, que
tem um PIB per capita de 258% da média europeia, ou muitos outros, também com PIB superiores ao nosso —
como a Áustria, a Finlândia, a Bélgica, a Suécia, a própria Espanha, todos eles com PIB superiores —, têm a
manutenção ou, nalguns casos, mesmo o aumento das verbas da coesão. É uma coisa que não aceitamos,
como também não aceitamos relativamente à PAC (política agrícola comum), que é um ponto muito crítico nós,
um corte no segundo pilar de cerca de 15%.
Ora, a verdade é que estive a rever um conjunto de notas sobre o que o Governo tem feito sobre esta matéria
e lembro-me de um discurso, aqui, no Parlamento, do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, sentado mesmo
ao seu lado, em que ele dizia que havia cinco alíneas muito importantes para Portugal, sendo que uma que era:
«reforçar os recursos disponíveis para as políticas de coesão e para o segundo pilar da PAC». A verdade é que
não estamos a conseguir fazer isso, nem no caso da coesão, nem no caso da PAC, e, por isso mesmo, quatro
meses depois do início de todo este processo, gostaríamos de perceber o que é que o Governo português vai
dizer sobre esta matéria.
O terceiro e último aspeto é um aspeto caricato que estava no discurso do estado da União e que não devia
estar nesse mesmo discurso. Causa muita estranheza, sobretudo depois de estar ausente uma matéria tão
relevante como o próximo quadro comunitário, que a Comissão se lembre que o que a Europa tem de fazer, a
coisa mais relevante para o futuro da União Europeia é — veja-se! — acertarmos a hora ou, pelo menos, não
mudarmos a hora num ou noutro país.
Esta matéria, para nós, Sr. Primeiro-Ministro, até é bastante caricata. Se há matéria em que Estados devem
poder decidir, no seu poder soberano, é definirem a hora que querem. Vou fazer-lhe uma pergunta muito focada:
sabemos que há uma diretiva neste momento em marcha — já foi, aliás, enviada para Parlamento — e
gostaríamos de saber se o Governo português vai ou não vai aderir a esta ideia.