I SÉRIE — NÚMERO 9
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Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada
Paula Santos, do PCP.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro e restantes Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Do que já se conhece relativamente ao próximo Conselho Europeu, não há um distanciamento
do militarismo, aliás, um dos pilares da União Europeia. Muito pelo contrário, prossegue a lógica do seu
aprofundamento.
Aos problemas de migrações, a União Europeia responde com militarização e securitização, ao invés de
assegurar os direitos fundamentais, o que é bem demonstrativo da hipocrisia da União Europeia quando propala
os valores da solidariedade e da cooperação mas, na prática, o que implementa é o retorno, quando é
responsável também pela catástrofe que se continua a viver no Mediterrâneo e que, desde 2014, já matou 17
088 seres humanos.
Acentua-se um ataque à soberania dos Estados, ou de aberto neocolonialismo, como é o da chamada
«aliança África», que visa a imposição do comércio desregulado, de investimento orientado para os interesses
das grandes multinacionais e de políticas de externalização de fronteiras, replicando os inqualificáveis acordos
com a Turquia ou a Líbia a outros países africanos.
É necessário cumprir as normas do Direito Internacional que conferem direitos proteção aos refugiados e
esse cumprimento deve ser concretizado por via da cooperação e do princípio da solidariedade, de acordo com
as capacidades e condições concretas.
É necessário atacar as causas dos movimentos migratórios forçados, começando pelas guerras imperialistas
e pelas políticas de exploração e neocolonialismo que estão na origem de dramáticas situações, nomeadamente
no continente africano. É isso que o PCP entende que o Governo deveria defender.
O Conselho Europeu procura aprofundar políticas que limitam e cerceiam direitos, liberdades e garantias,
escamoteando as responsabilidades da própria União Europeia e da NATO (North Atlantic Treaty Organization)
em várias ameaças, como a do terrorismo ou a das armas não convencionais.
A estratégia é velha. Acenam-se com ameaças e inimigos para aprofundar as políticas de concentração e
centralização de capacidade policiais e judiciais, ao mesmo tempo que se impõe mais restrições, mais controlos,
enfim, se consolida uma visão securitária das políticas da União Europeia.
Sem negar a complexidade do processo de saída do Reino Unido da União Europeia, a verdade é que este
têm sido permanentemente instrumentalizado para dificultar, deturpar o significado, limitar o alcance e perverter
a decisão soberana de um povo, tomada em referendo.
As negociações em curso têm a virtude de mostrar quais são os verdadeiros interesses que a União Europeia,
por um lado, e o Governo britânico, por outro, realmente defendem. Tanto de um lado, como de outro, muitos
estão apostados em usar a futura nova situação para forçar uma desvalorização geral de direitos e de condições
de vida dos trabalhadores. É sintomático que, no quadro dos desentendimentos, que expressam contradições
entre diferentes fações do poder económico, o que persista firme seja o compromisso de salvaguardar a
coordenação do campo do militarismo, da NATO e da escalada militarista em curso.
Como o PCP alertou há muito, tudo é tentado para fazer da saída da Grã-Bretanha uma espécie de lição
para que outros não se «atrevam» a tomar decisão similar.
O futuro próximo dirá qual o desfecho deste processo. Neste momento, não é de descartar nenhuma
hipótese, incluindo a de vários setores tentarem ainda o desrespeito e a inversão do resultado do referendo.
Mas há dois elementos que importa sublinhar. O primeiro é que, à semelhança do que foi a campanha do
referendo, o modo como o processo de negociação está a ser conduzido por ambas as partes alimenta
nacionalismos, racismos e ideologias abertamente reacionárias. O segundo é que a concretização da saída do
Reino Unido da União Europeia encerra em si possibilidades reais e condições de avanço na luta dos
trabalhadores e dos povos, no Reino Unido e não só.
Sobre o dito «aperfeiçoamento» e «completação» do euro, procura-se reforçar o cortejo de constrangimentos
e imposições que limitam a soberania nacional e, assim, a possibilidade da afirmação de projetos de
desenvolvimento soberano, assentes no progresso social.