I SÉRIE — NÚMERO 18
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O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do PCP, tem a palavra o Sr. Deputado
Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados:
O Orçamento do Estado para 2019 incorpora um conjunto de medidas de sentido positivo que correspondem a
novos avanços na reposição e conquista de direitos e rendimentos. Referimo-nos a medidas como a do aumento
extraordinário das pensões, num mínimo de 10 € ou 6 €, pelo terceiro ano consecutivo; a da gratuitidade dos
manuais escolares em todos os 12 anos da escolaridade obrigatória; a do fim do pagamento especial por conta
para as micro e pequenas empresas; a do alargamento das condições de acesso à reforma, por parte de
trabalhadores com longas carreiras contributivas; a da redução do custo da eletricidade e do gás natural; a do
apoio extraordinário a desempregados de longa duração; a do alargamento do abono de família para crianças
entre os 3 e os 6 anos; a da redução nos custos dos transportes públicos; a da redução das propinas no ensino
superior; a do apoio à agricultura familiar e à pesca artesanal; a da aquisição de material circulante ferroviário e
de navios do serviço fluvial; a da redução do IVA em espetáculos culturais; a da consolidação e reforço do apoio
à deficiência.
Além destas medidas, é preciso que o Governo concretize também compromissos anteriormente assumidos,
nomeadamente o da contagem do tempo de serviço nas carreiras especiais da Administração Pública —
professores, profissionais das forças e serviços de segurança, profissionais de saúde e carreiras da justiça —
e, ainda, o da contratação do pessoal indispensável ao normal funcionamento dos serviços públicos ou à
erradicação da precariedade na Administração Pública.
Sublinhamos, de resto, a afirmação do Sr. Ministro das Finanças, hoje, neste debate, de dar andamento ao
compromisso que já havia assumido com o PCP, de eliminação do aumento do ISP, feito em 2016.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Se a proposta de Orçamento do Estado incorpora
medidas positivas, não é menos verdade que também enfrenta constrangimentos. Constrangimentos que
resultam das opções do PS e do seu Governo, que limitam, ou mesmo impedem, a resposta plena aos problemas
das pessoas e do País.
Nesta proposta de Orçamento do Estado para 2019, o Governo mantém a sua opção pela redução acelerada
do défice, fixando uma meta de 0,2%. São menos 5 décimas do que o défice de 2018, décimas que, somadas
às muitas com que anteriormente o País não pôde contar, faltarão para o investimento público, para a melhoria
dos serviços públicos e das funções sociais do Estado na saúde, na educação, na proteção social, na cultura,
na habitação, nos transportes. Décimas que faltarão para acolher as propostas do PCP, as quais dão resposta
aos problemas nestas e noutras áreas.
Sim, Srs. Deputados, a opção do PS, mas também do PSD e do CDS, de aceitar os constrangimentos e as
imposições da União Europeia e do euro, em particular no que diz respeito ao défice, tem consequências: trava
a reposição de direitos e rendimentos retirados pelo anterior Governo, limita a capacidade de conquistar e afirmar
novos direitos, impede a resposta aos sérios problemas estruturais do País.
Na proposta de Orçamento do Estado para 2019, o Governo insiste na ilusão de considerar que o problema
do endividamento está controlado e que os múltiplos fatores externos, que condicionam a sua evolução, terão
sempre um desenvolvimento favorável.
Em 2019, a dívida pública, medida em percentagem do PIB, até pode descer alguns pontos percentuais, mas
perturbações externas, que o nosso País não controla, poderão atirar a dívida novamente para um crescimento
exponencial.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Na realidade, Portugal continua hoje, como no passado, vulnerável à imprevisível
evolução dos mercados, aos caprichos das agências de rating ou à ação devastadora dos especuladores.