31 DE OUTUBRO DE 2018
33
por este Programa se o valor da renda, já com a redução prevista, for até 754 €. Ora, quando o valor da renda
de um T2 em Lisboa se situa entre 1000 € e 1500 €, rapidamente se conclui que encontrar uma casa com
condições de habitabilidade e área adequada em função da dimensão do agregado familiar, para ser abrangida
por este Programa, é como «encontrar uma agulha num palheiro». Da experiência de outras cidades europeias
que avançaram com medidas idênticas, o que se conclui é que a acessibilidade é só para quem aufere
rendimentos acima da média.
Assiste-se a uma elitização dos centros urbanos e dos centros históricos, na medida em que as famílias com
rendimentos mais baixos estão a ser expulsas para dar lugar a famílias com rendimentos muito elevados, e as
propostas do Governo não põem termo a este flagelo.
O PCP continuará a travar a batalha por uma política de habitação que sirva os interesses do povo, onde o
Estado assuma um papel determinante na promoção pública de habitação que concretize o desígnio
constitucional do direito à habitação. Na discussão deste Orçamento, em sede de especialidade,
apresentaremos propostas neste sentido.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, em nome do Bloco de Esquerda, tem a palavra o
Sr. Deputado José Soeiro.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Esta proposta de Orçamento do
Estado, nomeadamente na área da segurança social, tem a marca do que se tem feito bem nesta Legislatura e
que contrasta, justamente, com a anterior.
Assim, em vez de cortar rendimentos, recuperámo-los; em vez de, em cada ano, tirarmos 600 milhões às
pensões, atualizámo-las; em vez de promover o encolhimento da economia, que provoca desemprego e põe em
causa a sustentabilidade da segurança social, valorizámos o trabalho e procurámos corrigir desigualdades.
A direita não tem discurso sobre este Orçamento, porque oscila entre duas teses contraditórias: ora diz que
falta tudo e que este é um Orçamento de austeridade, ora diz o seu contrário, que este Orçamento tem demais.
São duas versões naturalmente incompatíveis, mas, neste debate, tudo na direita tem sido confusão e
dissimulação.
Vamos, contudo, ao que interessa.
Os pensionistas ganham com este Orçamento, porque sabem que, na negociação que fizemos em 2015,
lhes garantimos um aumento automático da pensão em cada ano. Em 2019, os quase 3 milhões de pensionistas
terão um aumento nas suas pensões e, para a esmagadora maioria, esse aumento será acima da inflação, por
termos acordado já em 2015 que seria assim. Com o aumento extraordinário, que, este ano, acontece em
janeiro, mais de 1,5 milhões de pensionistas recuperarão finalmente o poder de compra que lhes foi retirado
pelo PSD e pelo CDS nos anos da austeridade e do anterior Governo. Para as pensões mínimas, que não tinham
ainda incorporado no seu valor o impacto dos aumentos extraordinários anteriores, este acerto será feito este
ano. Esta é uma marca da esquerda neste Orçamento, mas é, sobretudo, uma marca de justiça para quem
trabalhou uma vida inteira.
A atualização do indexante dos apoios sociais, também inscrita no Orçamento, significa que o valor do
conjunto das prestações sociais será atualizado. Falamos do complemento solidário para idosos, justamente a
prestação que a direita cortou e cujo valor será novamente atualizado; falamos do rendimento social de inserção,
que a direita diaboliza, mas que é o que resta — e é tão pouco! — a quem não tem nada, a quem vive na
pobreza, nomeadamente, aos cidadãos e às cidadãs sem-abrigo; falamos do corte de 10% no subsídio de
desemprego que, em má hora, o PSD e o CDS fizeram e que anulámos no ano passado.
No campo da proteção dos desempregados, que é um dos que mais nos preocupa, porque há tanta gente
que fica de fora dessa proteção, mantém-se neste Orçamento uma medida que vem de trás: o apoio
extraordinário aos desempregados de longa duração e que estão há seis meses sem subsídio, relativamente ao
qual conseguimos acordar, Bloco de Esquerda e Governo, um novo pequeno passo que pode fazer a diferença.
Falo da alteração às regras para benefício do subsídio subsequente ao subsídio de desemprego, ou seja, falo
de uma prestação que faz a ponte entre o desemprego e a pensão antecipada para quem tem mais de 52 anos,