I SÉRIE — NÚMERO 19
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Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, se o Parlamento vai votar um Orçamento desconhecendo
quais as despesas e os investimentos que o Governo não tenciona fazer em cada um dos programas
orçamentais, a aprovação dos limites da despesa com uma folga de 590 milhões de euros para o conjunto dos
programas vai permitir ao Governo optar pela transferência de verbas entre programas, vai permitir ao Governo
fazê-lo à margem de qualquer autorização da Assembleia da República, vai permitir ao Governo fazê-lo à
margem da lei, desvirtuando uma competência que é exclusiva da Assembleia da República. Outra coisa não
podemos deixar de concluir perante este Orçamento.
Há um Orçamento intencional do Governo, que ele esconde deste Parlamento, que esconde dos
portugueses, mas que será sentido no seu quotidiano, em 2019, seja porque o Governo vai aumentar as receitas,
seja porque o Governo vai diminuir despesa onde bem entender, introduzindo cativações, isto é, cortes. E podem
ser na saúde, na educação, já o disse, na segurança, no combate aos incêndios, na valorização dos
portugueses, pode ser onde o Governo bem entender, à margem de qualquer fiscalização por parte da
Assembleia da República. É um cheque em branco que os parceiros do Governo, que vão aprovar este
Orçamento, lhe vão passar e que lhes pode sair muito caro, eleitoralmente falando, no próximo ano.
Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, quais são os objetivos orçamentais deste Governo? É matéria que
devemos ver esclarecida aqui e, por isso, faço um apelo ao Sr. Deputado.
Diz o Sr. Ministro das Finanças Mário Centeno, citando o que foi a profecia de um mau momento muito
recente no plano financeiro e orçamental, que nos deixou sem dinheiro para pagar salários nem pensões, nem
Serviço Nacional de Saúde nem nada, que «há vida para além do défice». Mas qual défice? O défice
apresentado neste Parlamento ou o apresentado em Bruxelas?
No Orçamento há uma previsão de receitas e há uma previsão de despesas e a diferença entre ambas não
são trocos!
Entre os 975 milhões de euros de medidas apresentadas aos Deputados e os 385 milhões de euros de
medidas apresentadas a Bruxelas não há uma diferença técnica, há uma diferença de 590 milhões de euros. É
esta diferença que tem de ser explicada, Sr. Deputado Tiago Barbosa Ribeiro, e a questão que lhe coloco é
precisamente nesse sentido.
Sr.as Deputadas e Srs. Deputados, não se iludam, não se deixem iludir! Por mais que o desejem, nem o
Ministro Mário Centeno pode fazer com que dois mais dois não sejam quatro, nem em Portugal nem em
Bruxelas.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Tiago Barbosa Ribeiro.
O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Teresa Leal Coelho, creio que a
pergunta que me dirigiu revela, sobretudo, o problema de trazer perguntas escritas antes de ouvir o que os
oradores dizem. É que, de facto, permita-me que lhe diga, não questionou nada sobre o que eu disse na tribuna.
Aplausos do PS.
Em todo o caso, se bem percebi, perguntou qual era a diferença ou, mais concretamente, a distância entre
o Orçamento de Lisboa e o Orçamento de Bruxelas. Pois, creio que são 2048 km, que é a distância entre Lisboa
e Bruxelas, e que não haverá mais diferenças além desta,…
O Sr. Luís Moreira Testa (PS): — Muito bem!
Protestos do Deputado do PSD António Leitão Amaro.
O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — … mas teremos oportunidade de fazer esse debate, em sede de
especialidade.