I SÉRIE — NÚMERO 19
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Aplausos do PSD.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Ouviram e calaram!
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Ana
Mesquita.
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP) — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.
Deputados: É estranho andar para a frente andando mesmo para trás. Este foi o paradoxo que marcou o
percurso orçamental da cultura ao longo de anos. O mais baixo Orçamento de sempre em termos relativos —
0,1% —, feito alcançado tristemente pelas mãos de PSD e CDS em 2015, viu o recorde ultrapassado em 2016,
também de forma triste, e foi então um balde de água fria.
Em 2010, tínhamos 0,29% do Orçamento e 0,14% do PIB. Uma década antes, havia 0,16% da despesa total
da administração central e 0,2% do PIB. Em termos de Orçamento, parecia então mais fácil saltar para o futuro
de 1% para a cultura.
Regressando ao presente, o lento caminho de reforço orçamental ao nível da despesa por medidas do
programa cultura feito nesta Legislatura foi sendo realizado ao ritmo de pouco mais de 19,5 milhões de euros
ao ano, em média, só que os problemas que se acumularam na cultura são de tal ordem graves que não se
compaginam com tanta timidez na hora de os resolver.
O Orçamento para 2019 tem um aumento, que não chega ao peso relativo máximo do passado, mas também
não chega!
Sr. Primeiro-Ministro, está mais do que na hora de inscrever o objetivo de 1% para a cultura no Orçamento
do Estado e organizar um plano com medidas concretas para lá chegar e para desenvolver um verdadeiro
serviço público de cultura.
Nos Orçamentos desta Legislatura, o PCP foi o único partido a fazer esta proposta concreta, precisamente
em sede de Orçamento, e no Orçamento do Estado para 2018 fomos os únicos a propor uma outra coisa: 25
milhões de euros para os apoios às artes. Dissemos que era fundamental para começar a reverter o caminho
do desastre. Meses depois, os impensáveis resultados do concurso de apoios sustentados tiveram como
resposta os protestos de milhares de pessoas na rua, de norte a sul do País. Foi, talvez, a gota de água que
arrancou o grito há muito preso na garganta de muita gente.
Sim, continuamos a precisar de reforçar os apoios às artes, no mínimo para 25 milhões, e precisamos de
alterar um modelo de apoios, que era caduco à partida.
Quanto ao património, a situação de degradação e de incúria mantém-se e o único caminho que o Governo
parece apontar é o da prossecução de uma política de alienação e de entrega de imóveis classificados à sede
da exploração privada, desresponsabilizando-se quase totalmente das suas obrigações de salvaguarda.
Assinalamos positivamente o resgate da Fortaleza de Peniche a essa sanha «privatizadora», que avançou
também por iniciativa do PCP, e o plano para a sua recuperação. Muito, muito lutámos nós por isso! Mas não
esquecemos outros monumentos e sítios que precisam da intervenção da administração central.
Há uma falta gritante de pessoal. Aliás, este motivo, a par da falta de condições de trabalho e do desrespeito
pelo direito ao descanso, gozo de férias e pagamento de trabalho suplementar, levou a uma greve, entre os dias
25 e 28 de outubro, que contou com a adesão de 100% dos trabalhadores da bilheteira, receção e vigilância do
Mosteiro dos Jerónimos, da Torre de Belém e do Museu Nacional de Arqueologia.
O Governo prefere gastar dinheiro a comprar máquinas automáticas de venda de bilhetes a reforçar o número
de trabalhadores, caminhando cada vez mais para a desumanização e esvaziamento da capacidade técnica de
museus, palácios, monumentos e sítios arqueológicos.
Também o combate à precariedade e à exploração na área da cultura em geral, a nível público e privado,
precisa de medidas concretas que ultrapassem a mera enunciação de intenções.
Mas outros problemas se colocam. A Cinemateca e o ANIM (Arquivo Nacional das Imagem em Movimento)
carecem de intervenção urgente com o necessário reforço de meios, por forma a garantir a sua natureza
integralmente pública e o cumprimento cabal da sua missão. Precisam de receitas gerais do Orçamento do
Estado e não podem viver apenas de receitas próprias e da cobrança de taxas.