31 DE OUTUBRO DE 2018
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Mas, um dia depois de a Galp ter assumido a derrota imposta pelo tribunal, que deu razão e voz ao movimento
ambientalista, cumpre referir que esta proposta de Orçamento ainda contém incoerências no que respeita às
políticas na área da energia e do clima, nomeadamente com a introdução de medidas que penalizam as
renováveis e excluem da contribuição extraordinária a eletricidade produzida por combustíveis fósseis e que
determinam a redução da taxa nacional de carbono.
Este padrão insustentável e protecionista dos interesses de alguns grupos está também patente nas
obsoletas políticas do setor da agricultura, de onde continuam ausentes medidas para concretizar a Estratégia
Nacional para a Agricultura Biológica, enquanto se mantêm os fortes incentivos à insustentável indústria
pecuária e às produções intensivas e superintensivas de alimentos.
Mas, se as políticas do setor da agricultura estagnaram no século XX, há sinais francamente positivos que
este Governo está a dar, ao aproximar-se das posições do PAN, acolhendo as nossas medidas, que por sua
vez representam as preocupações e prioridades de muitos cidadãos e de muitas cidadãs. Reconhecemos e
valorizamos o papel que o Governo tem tido na concretização das propostas do PAN que visam uma forte
redução da produção e do consumo de plástico e o alargamento dos incentivos à mobilidade elétrica, bem como
a sua abertura para a implementação de políticas de inclusão mais justas, tais como a criação de gabinetes de
apoio aos estudantes com necessidades educativas especiais e a contratação de intérpretes de língua gestual
portuguesa para o Serviço Nacional de Saúde.
Não posso deixar de enfatizar o humanismo e a sensibilidade para ler os valores da sociedade do século XXI
da parte dos membros do Governo e do Partido Socialista, que assumiram o compromisso ético de acabar com
a isenção de impostos à indústria tauromáquica, que constituía uma forma encapotada de financiar publicamente
este setor, criando uma grosseira distorção fiscal e promovendo uma enorme injustiça tributária. Enquanto não
existir coragem política para abolir esta prática anacrónica, estas pessoas que vivem da tortura e dos maus-
tratos a terceiros, que não acrescentam nenhum valor à sociedade, devem, no mínimo, pagar impostos, como,
aliás, todos aqueles que trabalham.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Primeiro-Ministro, Sr. Líder do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, em
reconhecimento da vossa abertura para acolher as nossas propostas, e porque palavra dada é palavra honrada,
votaremos a favor do Orçamento do Estado, na generalidade.
Aplausos de Deputados do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, de Os Verdes, para uma intervenção.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs.
Deputados: Nesta Legislatura, já ficou patente que, quanto melhor os portugueses viverem, melhor estará o
País. Ou seja, deitou-se por terra aquela teoria de anteriores governos, e do anterior Governo PSD/CDS, em
particular, que sustentava que, para o País melhorar, era preciso que a generalidade dos portugueses vivesse
mal, fizesse sacrifícios imensos e se habituasse a uma certa dimensão de empobrecimento, algo intolerável
para qualquer ecologista.
A verdade é que, se tiverem melhores rendimentos, os portugueses contribuem para a dinamização da
economia, a criação de postos de trabalho e a diminuição do desemprego, gerando-se melhores contas públicas.
Continuar, portanto, a fazer o contrário do que o Governo PSD/CDS fez e teria feito em relação a salários,
pensões, apoios sociais e impostos é determinante neste Orçamento e os frutos surgem, patentes, por exemplo,
nos números relativos à criação de emprego.
Mas é preciso que haja plena consciência de que o PS sozinho não teria promovido estas conquistas. Ainda
nos lembramos bem das palavras do Sr. Primeiro-Ministro sobre a necessidade de se escolher entre aumentar
os salários da função pública ou contratar mais funcionários públicos. Nós não poderíamos aceitar essa escolha,
nem que se chegasse ao final desta Legislatura mantendo o congelamento do aumento salarial, que dura há
cerca de 10 anos. Esse aumento de salários far-se-á em 2019.