12 DE DEZEMBRO DE 2018
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sentidos pelos povos, é responsável pela criação do «caldo» para o desenvolvimento de forças reacionárias e
de extrema-direita.
O Sr. António Filipe (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — O aprofundamento do mercado único beneficia particularmente as economias
mais desenvolvidas, em prejuízo das economias menos desenvolvidas, criando mais desigualdade e mais
divergência, em detrimento da coesão económica e social.
A verdade é que, ao longo de anos, nunca se compensaram os impactos negativos das políticas comuns, do
mercado único e da união económica e monetária.
Quanto ao quadro financeiro plurianual, a questão não é a de quanto é que é aprovado, mas, sim, se é ou
não aceitável para Portugal. E a proposta da Comissão Europeia é muito negativa para Portugal e para a Europa:
corta na coesão e na política agrícola comum para aumentar as rubricas da segurança e da defesa, acentuando
as assimetrias entre países. A isto acresce o corte no POSEI (Programa de Opções Específicas para fazer face
ao Afastamento e à Insularidade), o aumento da comparticipação nacional na aplicação de fundos estruturais, o
maior predomínio dos instrumentos financeiros, o reforço da condicionalidade macroeconómica associada ao
semestre europeu e a criação de novas formas de condicionalidade política, o que consideramos inaceitável.
O princípio da unanimidade na decisão sobre o quadro financeiro plurianual é fundamental para a defesa dos
interesses de cada país.
O Sr. AntónioFilipe (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª PaulaSantos (PCP): — As notícias que furam o manto de silêncio em torno da denominada reforma
da união económica e monetária justificam redobradas preocupações. Veja-se o exemplo do anunciado acordo
quanto ao dito backstop do Fundo Único de Resolução (FUR), que aponta para mais uma fonte de financiamento
do capital financeiro à custa dos orçamentos públicos.
Anunciando-se desenvolvimentos no que diz respeito a esta reforma, importa sublinhar que novas
abdicações de soberania dos Estados face à União Europeia mais não significarão do que novos e reforçados
mecanismos de domínio económico e político, determinados pelas grandes potências da União Europeia.
A solução para os problemas que o País enfrenta não é a continuação de uma opção que conflitua com o
nosso desenvolvimento soberano. A solução passa pela firme defesa da soberania e independência nacionais
e a libertação do País da submissão ao euro e dos condicionamentos da União Europeia.
Relativamente ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia, agudizam-se as contradições,
presentes no adiamento da votação pelo Parlamento britânico do designado Acordo de Saída entre o Reino
Unido e a União Europeia, não sendo ainda claro qual o seu desfecho.
O PCP reafirma que a decisão soberana do povo britânico deve ser integralmente respeitada e que o Governo
português deve intervir para salvaguardar os interesses e os direitos dos portugueses que residem e trabalham
no Reino Unido e deve desenvolver relações bilaterais mutuamente vantajosas entre Portugal e o Reino Unido,
que respeitem a soberania de ambos os povos e as aspirações de ambos os países.
Por fim, expressamos a mais profunda preocupação pela declaração do Conselho de Justiça e Assuntos
Internos, de 6 de dezembro, sobre a suposta luta contra o antissemitismo, que apela aos Estados-Membros a
adotarem a definição da IHRA (International Holocaust Remembrance Alliance), uma definição que é contestada
inclusive por 40 organizações judaicas, que denunciam o propósito de confundir deliberadamente a crítica
legítima ao Estado de Israel e a defesa dos direitos do povo palestiniano — incluindo o direito de resistir à
ocupação — com o antissemitismo.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do Grupo
Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes».