I SÉRIE — NÚMERO 35
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Sr.as e Srs. Deputados, o CDS requereu as presentes apreciações parlamentares porque pretende conhecer,
concretamente, os recursos financeiros, patrimoniais, técnicos e humanos, que irão ser afetos a cada área a
descentralizar.
Como já prometemos, não passamos cheques em branco ao Governo. Assim, apresentamos hoje uma
proposta de alteração a estes decretos-leis para que se clarifique, em concreto, a questão financeira, os serviços
a transferir, os recursos humanos que irão ser afetos e o património a transferir para as autarquias locais.
Sem haver regulamentação em concreto de todas estas questões essenciais, a descentralização nunca
passará apenas de uma boa intenção. E nós, no CDS, que acreditamos na descentralização, nunca tal
poderemos aceitar e lutaremos para que esta reforma de Estado, tão importante, seja uma realidade.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Em nome do PCP, tem agora a palavra a Sr.ª Deputada Paula
Santos para uma intervenção.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: O PCP
sempre considerou que a Assembleia da República não poderia ficar à margem do processo de transferência
de competências para as autarquias, dada a sua dimensão, relevância e pelo que significa no âmbito da
reconfiguração do Estado. Não numa perspetiva de melhorar o serviço público e a sua eficiência, mas de
desresponsabilização do Governo, transferindo problemas que ao longo de décadas sucessivos Governos não
resolveram e que em alguns casos até se agravaram.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — O que ocorreu recentemente em Borba deveria servir de exemplo para o que
não se deve fazer.
Estão previstas transferências de competências diretamente da administração central para as entidades
intermunicipais, que não são autarquias nem integram a organização administrativa do Estado. É por isto que
apresentamos as apreciações parlamentares dos decretos-leis publicados até ao momento, tal como iremos
fazer com os demais.
Os decretos-leis publicados confirmam a posição do PCP: não estamos perante um verdadeiro processo de
descentralização, mas, antes, perante uma transferência de encargos para as autarquias de um modo
desconexo e incoerente.
Um verdadeiro processo de transferência de competências para as autarquias implica observar a
organização administrativa do Estado como um todo e não de forma parcelar, como ocorreu, incluindo a criação
de regiões administrativas, e não se resume à transferência de competências entre administrações central e
local.
Um verdadeiro processo de descentralização implica: a preservação da autonomia administrativa, financeira,
patrimonial, normativa e organizativa interna das autarquias locais; a garantia de acesso universal aos bens e
serviços públicos necessários à efetivação de direitos constitucionais e a universalização de funções sociais do
Estado; a coesão nacional e a eficiência e eficácia da gestão pública; a unidade do Estado na repartição legal
de atribuições entre as entidades públicas e administrativas e a adequação do seu exercício aos níveis de
administração central, regional e local; a clareza na delimitação de responsabilidades; a adequação dos meios
às necessidades; e a estabilidade de financiamento no exercício das atribuições que lhe estão cometidas.
Um processo de descentralização implica o poder de execução, de decisão, de planeamento, de
programação e, quando aplicável, de fiscalização e de meios de natureza similar necessários à concretização
da atribuição, bem assim dos bens públicos, móveis ou imóveis, e demais meios que lhe estejam afetos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Não é perante um processo desta natureza que estamos presentes!