31 DE JANEIRO DE 2019
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A Sr.ª Sandra Cunha (BE): — … manter este crime como crime semipúblico é manter o poder do agressor
sobre a vítima, tanto mais quando sabemos que estes crimes são cometidos maioritariamente nas relações de
proximidade. Por isso, este crime tem de ser um crime público para proteger também as mulheres.
Reconhecer o óbvio é harmonizar o nosso ordenamento jurídico com a Convenção de Istambul, é atentar no
relatório do GREVIO (Grupo de peritos sobre o combate à violência contra as mulheres e a violência doméstica)
sobre a aplicação desta Convenção e cumprir aquilo com que Portugal se comprometeu, e bem, quando se
prontificou a ratificar esta Convenção. É, também, não aceitar que tudo fique igual e é exigir que o Governo
rompa o silêncio ensurdecedor que tem tido e mantido sobre estes assuntos.
O Bloco de Esquerda não falhará a estas mulheres! E os Sr. Deputados e as Sr.as Deputadas vão continuar
a pretender que já está tudo diferente ou vão finalmente reconhecer a realidade e agir?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço aos Srs. Deputados que, se assim o quiserem, se inscrevam para
pedir esclarecimentos.
Pausa.
A Mesa regista quatro pedidos de esclarecimento por parte do PS, do CDS, do PCP e, também, do PSD.
A Sr.ª Deputada Sandra Cunha pretende responder, primeiro, a dois Srs. Deputados e, depois, aos outros
dois Srs. Deputados.
O primeiro pedido de esclarecimento cabe à Sr.ª Deputada Isabel Moreira, do PS.
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Sandra Cunha, este é um tema muito
difícil, muito doloroso para todas e todos nós e, certamente, o Bloco de Esquerda não tem o monopólio da defesa
destas mulheres.
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Podemos discordar relativamente a soluções jurídicas no que toca à
violência de género, ao crime de violação, mas termos posições diferentes no que toca à configuração do crime
de violação ou ao crime de violação enquanto crime público ou crime semipúblico é completamente diferente de
cavar uma trincheira entre aqueles que estão do lado destas mulheres e aqueles que ficam, alegadamente,
calados sobre esse assunto.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Isso, pura e simplesmente, não é verdade! Não é verdade!
Aplausos do PS.
Este Governo tem dado uma centralidade evidente à questão da violência de género. Ainda há pouco tempo,
tivemos a Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade na 1.ª Comissão e a Sr.ª Deputada pôde ouvi-
la falar longamente sobre esta matéria.
Estamos de acordo consigo sobre o facto de o crime de violação dever ser reconfigurado no sentido de
cumprir a Convenção de Istambul. Não, o trabalho não foi todo feito em 2015, mas foi um bom trabalho e foi
bem feito. Deve ser dado peso à questão do não consentimento, não a exigir-se, como já referi há uns dias, que
seja dado consentimento, mas que haja referência em como não há consentimento. As razões pelas quais o
Partido Socialista entende que a violação não deve ser um crime público já foram mais do que aduzidas, mas,
hoje em dia, já não é pura e simplesmente um crime semipúblico. Como sabe, já foi alterado e o Ministério
Público já pode continuar o procedimento em determinadas circunstâncias.