15 DE FEVEREIRO DE 2019
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avaliar é se essas operações serviram os interesses do banco ou, se não serviram, que interesses é que
serviram. O que nos cabe avaliar é quem foram os responsáveis por estas operações, se estas operações são
o resultado de incompetência ou se são resultado de pressões políticas ou de pressões de grupos privados. É
esse o mandato que temos e é isso que faremos nesta comissão de inquérito.
Temos, hoje, melhores condições para o fazer, porque há uma auditoria na qual nos podemos basear e que
resulta de um ano de recolha e de análise de dados, uma informação a que nenhuma comissão de inquérito
poderia ter acesso. E também temos melhores condições, porque a Caixa está recapitalizada, depois de um
processo que foi difícil e sem garantias de sucesso.
Temos recusado fazer da Caixa uma arma de arremesso e protegemos o banco público quando achámos
que era imperativo fazê-lo. Mas, existindo hoje condições e garantias para esta avaliação desta Caixa em
contexto de estabilidade, gostaria de rebater o argumento de quem acha que, por norma, o escrutínio e a
transparência fragilizam a Caixa Geral de Depósitos. Pelo contrário, uma clarificação do passado pode contribuir
para fortalecer o banco público, no futuro, através de uma reflexão sobre as suas fragilidades, mas também
sobre o seu potencial, que está intrinsecamente relacionado com a importância estratégica de ter um grande
banco público ao serviço da economia. O único banco que responde ao País é o único banco com capital
nacional.
Srs. Deputados, para finalizar, queria deixar uma nota sobre o Banco de Portugal. O Banco de Portugal é o
banco dos bancos. É a entidade que supervisiona todos os bancos do País, que avalia a suas práticas, que
decide quais os gestores que dão garantias de idoneidade para ser banqueiros. Se há pessoas que têm de estar
disponíveis para ver a sua idoneidade avaliada em qualquer momento, o Governador do Banco de Portugal é
uma delas.
Os Srs. Deputados podem ignorar esse facto, podem olhar para o lado ou olhar para a frente, à espera do
fim do mandato do Governador, mas uma coisa é certa: o Governador do Banco de Portugal deixou de ter
condições para ser governador a partir do momento em que o Banco de Portugal nos disse que não ia avaliar a
sua idoneidade.
Quero que isto fique bem registado: o Bloco de Esquerda não faz qualquer análise antecipada sobre a
idoneidade de Carlos Costa ou de qualquer outro ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos. É o Banco de
Portugal que tem de fazer essa análise e nós temos de exigir, legitimamente, ao Banco de Portugal que faça
essa análise de idoneidade aos ex-administradores. Mas, Srs. Deputados, no dia em que o Banco de Portugal
declarou que, de todos os administradores e ex-administradores da Caixa, há um que nunca será avaliado, que
é o seu Governador, nesse dia foi criado um conflito de interesses.
Se a única forma de assegurar que Carlos Costa é avaliado é que deixe de ser Governador, então deixe de
ser Governador. Caso contrário, Srs. Deputados, o conflito de interesses irá manter-se e cada partido tem de
avaliar se quer compactuar e viver com esse conflito de interesses ou se quer agir perante o mesmo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Duarte Alves, do Grupo
Parlamentar do PCP.
Faz favor, Sr. Deputado.
O Sr. DuarteAlves (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O relatório de auditoria à Caixa Geral de
Depósitos demonstrou, mais uma vez, que, com a aproximação dos critérios de gestão da Caixa aos da banca
privada, com o favorecimento dos interesses privados de grandes grupos económicos, com a entrada da Caixa
em negócios ruinosos, em projetos falhados e, mesmo, em guerras de acionistas de bancos privados, a Caixa
obteve avultadas perdas, que pesam sobre o povo português.
As responsabilidades pessoais da administração da Caixa e dos vários níveis de decisão devem ser apuradas
pela Caixa e o Estado, através do Governo, deve fazer o acompanhamento de perto desse apuramento e das
consequências das práticas de má gestão.
As eventuais responsabilidades criminais devem ser apuradas pelas instâncias judiciais, cujo trabalho deve
ser respeitado.