I SÉRIE — NÚMERO 52
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À Assembleia da República cabe o apuramento das responsabilidades políticas e essas, Srs. Deputados,
foram já clarificadas em anteriores comissões de inquérito e recaem, sem sombra de dúvida, sobre os
sucessivos conselhos de administração, povoados por figuras de proa do PS, do PSD, mas também do CDS e
dos governos que os nomearam, destes mesmos três partidos, sem esquecer as responsabilidades dos dois
Governadores do Banco de Portugal.
O Sr. JoãoOliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. DuarteAlves (PCP): — Recordamos que, só nesta Legislatura, já se realizaram duas comissões de
inquérito à Caixa, uma delas durou mais do que um ano.
Nunca um banco privado, onde os portugueses tiveram de meter milhares de milhões de euros para o buraco
da ruinosa gestão privada, da especulação e da corrupção financeiras — como são exemplo o BPN, o BES/Novo
Banco, mas também o BPI e o BCP —, nunca estes bancos tiveram um processo de três comissões de inquérito
com o banco em atividade, como está a ser feito com o banco público.
O Sr. JoãoOliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. DuarteAlves (PCP): — É que as intenções por detrás desta proposta do CDS são essencialmente
duas: uma, é a de dar palco para que o PS, o PSD e o CDS passem os próximos meses a distribuírem, entre si,
acusações de quem tem mais culpa, num registo de chicana política e nada mais; outra, já antiga, é a de, mais
uma vez, usar esta comissão de inquérito para atacar o banco público e assim beneficiar a banca privada.
Procuram, ainda, usar esta comissão para, em última análise, abrir caminho à entrada dos privados na Caixa,
porque sabem que, se o processo de recapitalização não for bem sucedido, a próxima capitalização já será
privada, como está previsto no acordo entre o Estado português e a União Europeia.
Mas, Srs. Deputados, pela parte do PCP, não daremos para esse peditório. Nesta comissão de inquérito, tal
como nas anteriores, manteremos a nossa recusa a todas as iniciativas de PSD e CDS que sirvam apenas para
atacar o banco público e trabalharemos para que possa servir para confirmar e densificar as responsabilidades
políticas já apuradas nas anteriores comissões.
O PCP continuará a afirmar aquilo que é cada vez mais uma evidência, se olharmos para o panorama do
sistema bancário português: é que a banca ou é pública ou não é nacional. Basta ver o que tem acontecido na
banca privada, capturada paulatinamente pelo capital estrangeiro.
Mas a realidade também evidencia que, para que um banco seja verdadeiramente público, não basta ser
propriedade do Estado. É preciso que seja orientado pelo interesse público, e é isso que tem faltado à Caixa,
com as consequências que se conhecem.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira.
Faz favor, Sr. Deputado.
O Sr. Paulo Trigo Pereira (N insc.): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Parece que existe uma larga maioria
a favor desta comissão de inquérito. Eu não partilho dessa opinião e queria apenas resumir algumas ideias
essenciais.
A primeira é que todos nós já percebemos pelo relatório de auditoria que houve má gestão na Caixa Geral
de Depósitos. E essa má gestão pode obviamente ser repartida entre responsabilidades civis, responsabilidades
criminais e responsabilidades políticas.
A questão para a qual não tenho resposta satisfatória é a de saber se os Deputados desta terceira comissão
de inquérito à Caixa Geral de Depósitos terão maior capacidade de investigação, por exemplo, sobre as
responsabilidades criminais do que os procuradores do Ministério Público.
A segunda questão para a qual não tenho resposta e em relação à qual tenho as maiores dúvidas é a de
saber se os Deputados da comissão de inquérito terão maior capacidade para fazer uma auditoria à gestão da