I SÉRIE — NÚMERO 56
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Mas é significativo que a maioria que aprovou este relatório — PS, PSD e CDS — se tenha preocupado em
escamotear todos os números para, assim, branquear as opções estratégicas do eixo franco-alemão, que
continuam a dominar a Europa.
Ainda relativamente ao reforço das políticas de coesão, propusemos que fossem criadas, em zonas do
interior, zonas económicas especiais, beneficiárias de diversas vantagens, com canalização de fundos
estruturais para a dinamização do emprego e do investimento, para o desenvolvimento de serviços públicos de
qualidade e para a instalação de ambientes tecnológicos adequados, de modo a atrair e fixar as populações.
O Sr. Ernesto Ferraz (BE): — Muito bem!
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Para reduzir os sobrecustos de acesso aos territórios do interior, propusemos
também a aposta na eliminação das portagens e a promoção de um novo perfil de mobilidade, articulando a
ferrovia regional com o transporte rodoviário. Tudo isto seriam alavancas poderosas de uma nova geração de
políticas de coesão, mas a tudo a maioria política deste relatório — PS, PSD e CDS — disse «não».
O relatório ficou mais pobre, perdeu, sobretudo, eficácia para dar resposta aos objetivos enunciados e, com
isso, afastou-se das expectativas criadas nas várias audições que a Comissão Eventual promoveu um pouco
por quase todo o País. Nesta matéria, todos os elogios que se façam à Comissão parlamentar serão poucos,
mas isso tem um risco, o de não corresponder às expectativas criadas pelas muitas dezenas de intervenções e
contributos escritos.
Veja-se um exemplo: em todas as audições se reclamou contra a atual política de descentralização e se
defendeu a necessidade de entrarmos no próximo quadro financeiro plurianual já com a regionalização feita. No
relatório, na parte propositiva, nada se reflete sobre estas propostas. Achamos mal, porque as propostas, mesmo
que alguns partidos as possam considerar «inconvenientes», não deveriam ficar omissas.
Se o PCP não tivesse abdicado da elaboração do capítulo III, que lhe esteve distribuído, sobre a coesão
social e territorial,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Essa é boa!
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — … talvez tivesse sido possível puxar por esse tema da regionalização e
colocá-lo, agora, em discussão pública.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Já não chegavam as outras aldrabices, agora ainda mais esta?!
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Lamentamos esse facto, mas, mesmo assim, o Bloco de Esquerda não
abdicará de pugnar por esse objetivo.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Não precisava de ir por aí! Isso não é sério!
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Por fim, um outro exemplo: o desenvolvimento sustentável é mais ou menos
como o programa do MFA (Movimento das Forças Armadas), a seguir ao 25 de Abril, que era apoiado por todos
os partidos, mas, quando se passou à prática, soltaram-se as divergências.
Com o desenvolvimento sustentável passa-se algo parecido: todos se dizem a favor, mas, quando o Bloco
de Esquerda propôs que, no relatório final, ficasse claramente expresso que «no atual contexto de forte pressão
sobre o planeta que as alterações climáticas já estão a provocar, é urgente mudar o paradigma energético (…)
não potenciando em Portugal a exploração primária de atividades com impacte direto no aumento das emissões
de CO2, como a exploração de hidrocarbonetos ou a mineração profunda (…)» em terra ou no mar, todos, repito,
todos os partidos votaram contra!
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Seja sério!
O Sr. Heitor de Sousa (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Sobre o desenvolvimento
sustentável, estamos conversados.