I SÉRIE — NÚMERO 62
30
Aplausos do PS.
O que aconteceu de diferente na Legislatura atual foi precisamente o facto de, não obstante ter havido
propostas que podiam ter a mesma necessidade de validação parlamentar, não estar em causa anatematizar
alguém que, por estar num gabinete, fica impossibilitado para todo o sempre de eventualmente ser nomeado
para um regulador. Há é mecanismos que permitem avaliar da sua competência e, no limite, sujeitá-lo ao
escrutínio que, democraticamente, esta Casa pode fazer. E o que o Parlamento precisamente fez — aliás, contra
a opinião desta bancada e contra a opinião do Governo — foi, em alguns casos, entender que a nomeação não
deveria ter lugar. E o que é que o Governo fez? Respeitou o Parlamento, respeitou a independência do regulador
e não fez a nomeação. Parece-me que esta é a forma séria de encarar o debate e de alterar o procedimento
das designações, que têm lugar e que devem continuar a ter.
Aplausos do PS.
Diria ainda mais: os reguladores são o Estado. Os reguladores são uma entidade pública cuja missão
principal deve ser a defesa do interesse público. Por isso é que também é estranho que, quando o regulador
finalmente mostra músculo, haja desconforto nas bancadas da direita.
Quando o regulador vem dizer que há certos setores cuja transferência para o setor privado está a destruir a
qualidade do serviço público, aí sim, já temos alguma alergia à independência do regulador porque,
fundamentalmente, essa é que é a diferença: não há tremendismo nem há caráter absoluto do lado desta
bancada parlamentar. Entendemos que os reguladores têm o seu papel, mas eles também não são um deus
ex-machina que substitui o decisor público, que deve ser a única e principal fonte de verdade e de políticas
públicas. O que é necessário é equilíbrio.
Finalmente, este debate é também interessante porque, sistematicamente, esteve sempre a procurar puxar
o debate, fulanizando-o ou, pelo menos, incidindo sobre o atual Governador do Banco de Portugal e sobre o
processo da recondução, ou, melhor dizendo, sobre o processo da eventual cessação de funções.
Ora, recordemos aquilo que já foi dito neste debate. A realidade é que falharam todos os argumentos que
eram necessários para este debate, porque não se reconhece que esta matéria é regulada não apenas no plano
nacional, mas por regras e pela sua integração no sistema europeu de bancos centrais. É um debate que tem
lugar sem qualquer vontade de se aguardar pelas ilações que se poderão retirar dos vários trabalhos
parlamentares, em sede de comissões parlamentares de inquérito,…
Protestos de Deputados do CDS-PP.
… que nos poderão ajudar a perceber o que é que falha na supervisão, o que é que deve ser incluído e o
que é que deve ser feito futuramente, achando que a nomeação pelo Presidente da República é uma varinha
mágica que resolveria todos os problemas.
Para concluir, Sr.as e Srs. Deputados do CDS, que nos trazem esta proposta, direi o seguinte: a Constituição
não é, como foi dito, uma desculpa para não aprovar uma medida.
A Constituição é aquilo que nos orienta na aprovação das medidas, não é um pormenor para remetermos
para a especialidade e, curiosamente, não é algo que tenha preocupado o CDS quando, há duas legislaturas,
apresentou estas iniciativas. Mas — achávamos nós! — poderia ter contribuído para que o CDS não as tivesse
apresentado na Legislatura passada, porque, de facto, esqueceu-se delas quando teve maioria neste
Parlamento, quando fez parte de uma coligação que, se quisesse, poderia ter introduzido estas alterações. Não
o fez porque, verdadeiramente, a seriedade com que encarou este debate, nessa ocasião e nesta, não é aquela
que estaria à altura dos patamares numa revisão integrada deste sistema.
Por isso, esperamos, com franqueza, que possamos continuar a discutir esta temática, a discutir a
supervisão, mas com o estudo e a seriedade que ela exige.
Aplausos do PS.