I SÉRIE — NÚMERO 62
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O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — … tudo devia ser Estado e, portanto, não entra na sua lógica a existência
de entidades independentes. Se nem sequer aceitam um sistema político normal, pois aquilo que têm como
modelo para um sistema político normal seria o modelo de partido único, em que Deputados da oposição só
deviam existir na prisão, algures na Sibéria, como é que vão aceitar sociedades e entidades independentes e
entidades reguladoras?
Protestos do BE e do PCP.
Compreende-se, é coerente com o vosso pensamento.
Mas, Caros Colegas, pior não é aquilo que é a vossa lógica, pior é a lógica que o Partido Socialista aqui
personalizou e, sobretudo, ao longo destes anos, o seu comportamento.
Protestos do PS.
É que o Partido Socialista está com um pé dentro e um pé fora. Sabe que é politicamente incorreto dizer que
é contra as entidades reguladoras independentes, sabe que a sociedade não o aceita, que a economia na qual
nos revemos tem, na Europa e na América, entidades reguladoras independentes poderosas e, portanto, não
se atreve a dizer que é contra. E vai fazendo algo diferente, que é, pelo seu comportamento, manietar, controlar
e, se possível, legislar para que elas fiquem sob a sua alçada, sob a alçada do poder político.
Ora, isto é pior do que o vosso comportamento, porque os senhores, pelo menos, têm a coragem de dizer
que são contra. Mas há outros que dizem que são a favor e, depois, no dia a dia, atuam de forma a mostrar que
também são contra.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — E fazem-no como? Muito simplesmente nomeando para a direção dessas
entidades pessoas que saem diretamente dos gabinetes ministeriais. E independentes? Independentes do
Secretário de Estado que as nomeou!… Independentes do Ministro que nomeou essas personalidades!… E
como? Manietando o orçamento dessas entidades. Precisam de dinheiro? Então, têm de ir lá, de mão estendida,
para poderem contratar, para poderem fiscalizar, para poderem atuar! Onde é que está a independência destas
entidades com este comportamento?! Mas é o comportamento do Partido Socialista. E, no limite, através da
legislação, altera-se o modelo de supervisão, se necessário, para ajuste de contas, para mostrar que quem
manda é o Ministro das Finanças, também na supervisão financeira.
E a independência do Banco de Portugal pode passar para o outro lado, não interessa, porque o que interessa
é controlar as entidades independentes.
É por isto, Sr.as e Srs. Deputados, que este debate foi importante. Fica claro, fica claríssimo aquilo que nos
separa. Há quem, durante anos, pela prática que teve e por aquilo que defende, defende entidades reguladoras
verdadeiramente independentes,…
Protestos do Deputado do BE Luís Monteiro.
… por exemplo, convidando até o líder da oposição para indicar personalidades para a administração, porque
não temos medo que as personalidades que venham daí desfaçam o trabalho que estamos a desenvolver. Foi
assim que fizemos, por exemplo, com o presidente da CReSAP, quando o Governo era maioritariamente liderado
pelo PSD e pelo CDS.
Vozes do PSD: — Bem lembrado!
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Mas, agora, é melhor nomear alguém que fique sob a tutela do Ministro
das Finanças para que a sua independência fique perfeitamente clara e límpida para todos!…
Estão a ver a diferença de posturas? Há quem fale e há quem faça. Nós preferimos fazer, enquanto outros,
infelizmente, só falam.