20 DE MARÇO DE 2019
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Do ponto de vista do salto comercial, não obstante este grau de incerteza, não obstante a desvalorização da
libra, conseguimos aumentar em 11% o saldo favorável da nossa balança de transações relativamente ao Reino
Unido.
Do ponto de vista do esforço que temos vindo a fazer na campanha específica do turismo, que tem sido,
aliás, muito louvada — ainda hoje de manhã o foi, pelo Sr. Presidente da Confederação do Turismo —, temos
estado a trabalhar bem.
Para garantir os direitos de todos os cidadãos britânicos residentes em Portugal, no âmbito do plano de
contingência, o que falta executar é a proposta de lei que está em debate nesta Assembleia da República e que
presumo, e espero, seja aprovada no próximo dia 27, e, por outro lado, assegurar, como já assegurámos, que
não haverá barreiras desnecessárias à entrada de turistas britânicos no território português, em particular nos
dois aeroportos de destino de 80% dos turistas britânicos, o aeroporto do Funchal e o aeroporto de Faro, onde,
mais do que os meios humanos, está assegurado que, caso a visita se destine exclusivamente a Portugal, não
será necessária a intervenção de qualquer funcionário para aposição de carimbo e os mecanismos de controlo
eletrónico são absolutamente suficientes para a entrada em Portugal.
Relativamente à questão que a Sr.ª Deputada Rubina Berardo colocou quanto à China, gostaria de dizer que
não me vou refugiar no passado porque, além do mais, quanto ao passado, só tenho a louvar o meu antecessor,
que foi capaz de atrair dois importantes investidores chineses no quadro do processo de privatização da EDP e
da REN.
Não temos uma visão de diabolização do investimento chinês e espero que o PSD, que agora passou para
a oposição, não tenha passado a ter essa visão de diabolização do investimento chinês. Também fico muito
satisfeito com o seu disclaimer de que ninguém defende o protecionismo, porque, deste lado, também ninguém
defende a quebra de segurança.
O que não aceito é que a pretexto da segurança se introduzam mecanismos de protecionismo que
desfavoreçam as condições de contratação dos países que têm de contratar a sua modernização tecnológica.
Verifico, aliás, que países exigentes, como o Reino Unido, há uma semana, e a Alemanha, hoje mesmo,
declararam que, com a informação que têm disponível, não têm nenhuma razão para excluir a Huawei do acesso
ao mercado relativamente ao 5G.
Quanto à questão colocada pela Sr.ª Deputada Isabel Pires sobre a taxação digital, penso que é essencial
haver taxação, desde logo para assegurar justiça fiscal e travar a concorrência desleal que essas empresas
fazem relativamente às empresas sediadas nos diferentes Estados-Membros que estão sujeitas à taxação, como
devem estar, nos países onde desenvolvem a sua atividade.
Tenho, aliás, enorme dificuldade em perceber a posição de alguma direita, como o CDS, que é contra a
criação desta taxação sobre as grandes empresas digitais, não percebendo que, ao isentar a taxação da
Amazon, está a fazer concorrência desleal aos distribuidores livreiros e aos livreiros portugueses, que são
obrigados a pagar o IRC (imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas) enquanto a Amazon faz chegar a
nossa casa os livros sem pagar qualquer tipo de imposto em Portugal.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Então, baixe-lhes o IRC!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Quero, aliás, dizer que estou de acordo, mas essa taxação tem de ser feita a
uma escala global, idealmente no âmbito da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico), seguramente pelo menos no âmbito da União Europeia. Não faz sentido adotá-la a nível
exclusivamente nacional.
É por isso que este tema se liga com uma questão que foi aqui colocada quer pelo Sr. Deputado Pedro Mota
Soares, quer pelo Sr. Deputado José Luís Ferreira, relativamente à unanimidade em matéria fiscal.
A manutenção da regra da unanimidade em matéria fiscal só favorece a evasão fiscal, a fraude fiscal, as
práticas fiscais desleais e não favorece países como Portugal, onde agentes económicos continuarão a ser
tributados e a sofrer concorrência desleal de quem encontra noutros Estados-Membros paraísos fiscais. Não
podemos aceitar essa forma de concorrência e é por isso que devemos dar este passo.
Sobretudo, não é possível manter este discurso de querer iludir todos, dizendo que queremos mais dinheiro
na política de coesão, mais dinheiro na política agrícola, mais dinheiro para a segurança, mais dinheiro para a
investigação e para a inovação, sabendo que o Reino Unido vai sair…