20 DE MARÇO DE 2019
45
Neste quadro, é imprescindível afirmar a exigência de que os direitos dos emigrantes portugueses sejam
assegurados, entre os quais os direitos laborais, mas também os sociais, tais como a residência, a igualdade de
tratamento no acesso aos serviços públicos, às prestações de segurança social, ao reagrupamento familiar ou
ao reconhecimento mútuo de diplomas académicos e de qualificações profissionais.
Segundo: a transposição para o acervo jurídico da União Europeia do chamado Tratado Orçamental foi
interrompida no Parlamento Europeu. Os factos e as razões que aí foram invocados deveriam, em coerência,
suscitar e corresponder à iniciativa da sua revogação. No entanto, embora o Tratado Orçamental não tenha sido
transposto — e bem! — para o quadro jurídico da União Europeia, continua em vigor para os Estados-Membros
que o subscreveram, nomeadamente Portugal, com o que representa de contínuo e grave condicionamento da
política orçamental, institucionalização e aceitação de limitações e de constrangimentos e de mecanismos de
pressão e chantagem.
Para o nosso País, as consequências da aplicação das regras associadas ao euro, incluindo as inscritas no
Tratado Orçamental, são bem visíveis na cega redução do défice das contas públicas, em vez de priorizar a
valorização dos trabalhadores, o reforço dos direitos ou o investimento público.
Para além das opções da responsabilidade de cada Governo — vejam-se os milhares de milhões desviados
para os buracos da banca privada, para alimentação das PPP (parcerias público-privadas) ou para o sorvedouro
dos juros da dívida pública —, as limitações e constrangimentos impostos pelo Tratado Orçamental representam
um obstáculo à valorização dos salários, das pensões e das carreiras, à contagem do tempo de serviço nas
carreiras especiais, à contratação de trabalhadores que assegurem os serviços públicos, ao imprescindível
investimento na saúde, na educação, nos transportes, à coesão territorial e ao incremento da produção nacional.
O Tratado Orçamental é sinónimo de inaceitável condicionamento à soberania nacional, de estagnação e de
dependência económica. Por isso, impõe-se libertar o nosso País deste autêntico colete de forças.
Terceiro: sobre o quadro financeiro plurianual 2021-2027, cujas negociações prosseguem, Sr. Primeiro-
Ministro, queremos também reiterar aquilo que temos aqui afirmado.
Defendemos: a função redistributiva do Orçamento; o aumento das verbas destinadas à coesão económica
e social; o aumento da margem de manobra dos estados na utilização de fundos, para que possam ser definidos
em função dos interesses de cada um dos países e não em função dos interesses das principais potências; uma
profunda modificação da PAC (política agrícola comum), que restabeleça instrumentos de regulação da
produção e dos mercados e introduza maior justiça na distribuição dos pagamentos entre países e dentro de
cada país.
Sublinhe-se, neste contexto, a ação negativa desenvolvida pelos Deputados do PS, PSD e CDS no
Parlamento Europeu, que têm somado os seus votos a maiorias que têm rejeitado e inviabilizado muitas das
medidas apresentadas pelos Deputados do PCP, as quais trariam claros benefícios para Portugal.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Estou a terminar, Sr. Presidente.
Entretanto, o Parlamento Europeu aprovou uma proposta do PCP que visa a eliminação da condicionalidade
macroeconómica do regulamento que estabelece as disposições comuns relativas à utilização dos fundos
estruturais e do investimento.
Importa agora que o Governo português, no Conselho, defenda esta posição de rejeição de um dos gravosos
fatores de condicionamento da ação dos estados por parte da União Europeia.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — A última intervenção, antes do encerramento do debate, cabe ao
Partido Ecologista «Os Verdes», pelo que tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo,
Sr. Primeiro-Ministro: Infelizmente, o processo de construção da União Europeia tem sido norteado a pensar nos
interesses dos grandes grupos económicos e financeiros e não nos interesses dos cidadãos e dos povos
europeus. Para satisfazer os interesses dos grandes grupos económicos, temos vindo a assistir, ao longo do