I SÉRIE — NÚMERO 100
12
No caso das prestações sociais, Sr. Ministro, isto foi manifestamente grave, porque a trajetória deste Governo
ao longo da Legislatura foi de agravamento da incapacidade de o Estado responder aos cidadãos. Demorou
muito tempo, Sr. Ministro! Se não tivesse sido sempre o Governo e esta maioria a manterem uma postura de
arrogância e mesmo de surdez em relação aos sinais que lhes chegavam, inclusive através da oposição, teria
oportunamente preparado e invertido este papel. A verdade é que percebemos que só em 2018 começaram a
ser implementadas medidas para tentar esbarrar aquilo que já era de todos conhecido: o Governo tardava a
cumprir o pagamento das primeiras prestações sociais, muitas vezes com consequências muito dramáticas para
os cidadãos.
Por isso, Sr. Ministro, sei que não gosta que o lembremos, mas é um facto, não tem que não gostar e no
caso do Sr. Ministro isso é particularmente grave, porque, com a sua experiência política,…
A Sr.ª Joana Barata Lopes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — … é alguém que entrou para o Ministério da Segurança Social
como secretário de Estado, em funções governativas, no século passado — é, provavelmente, o membro do
Governo que tem mais experiência nesta área —, é particularmente chocante que não tenha sido mais rápido a
inverter a incapacidade do Estado, a incapacidade do Ministério e a tentar manter aquilo que era absolutamente
essencial, que era responder a estes cidadãos que estão à espera das primeiras prestações sociais. E, sobre
esta matéria, o Bloco de Esquerda pouco se pronunciou.
A verdade é que entramos no tema da sustentabilidade da segurança social e, em relação a este tema, Sr.
Ministro, em primeiro lugar, gostava de confrontá-lo com o seguinte: nós conhecemos as previsões do Governo
para a evolução da sustentabilidade da segurança social, aliás, no relatório anexo à proposta de Orçamento do
Estado, está esse cenário, que evidencia, na perspetiva do Governo, uma melhoria, mas que algumas entidades
como, por exemplo, o CES (Conselho Económico e Social), a propósito desse relatório, enuncia também que é
pouco claro, nomeadamente por não demonstrar em que projeções e em que alternativas é que se baseia. Diz
o CES que, apesar de a evolução demográfica que é denunciada ser negativa nesse relatório do Governo, não
deixa de ser pouco compreensível que, apesar desta evolução demográfica claramente desfavorável para a
segurança social, os resultados do exercício da projeção subjacente apontem para uma melhoria de perspetivas
financeiras de longo prazo.
Sobre esta matéria, há estudos que têm vindo a ser apresentados, nomeadamente, pela Fundação Francisco
Manuel dos Santos. Percebemos que as projeções do Governo se baseiam nas projeções da União Europeia,
sobretudo na primeira hipótese de trabalho, que é uma hipótese otimista.
Aquilo que lhe queria perguntar é se o Governo está disponível para reforçar a transparência. E reforçar a
transparência significa, tal como o CES pede, falar claro sobre as projeções em que trabalha.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Para terminar, Sr. Ministro, nós, no CDS, que apelamos
sempre a que haja um contrato de transparência com os cidadãos, para que os cidadãos possam contar com
aquilo que esperam auferir no final da sua carreira contributiva, perguntamos: porque não promover, nesta área,
o aforro e criar condições, como o CDS propôs, para um sistema de capitalização voluntário, público e que possa
ser acompanhado de medidas para as empresas, de modo a que, não resolvendo, certamente, todos os
problemas porque muitos cidadãos não terão condições de aforrar, possamos, pelo menos, criar condições para
que aqueles que estão em situação de o fazer possam planear devidamente o seu futuro?
Creio que é uma proposta positiva do CDS, como, de resto, tem feito, mas que, infelizmente, a maior parte
das vezes, tem esbarrado com surdez, alguma arrogância e incapacidade de abertura por parte do Governo.
Esperamos que isso possa ser invertido.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente José de Matos Correia.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana Ferreira, do Grupo Parlamentar do PCP.