I SÉRIE — NÚMERO 104
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Europeia, ao longo de sucessivos Governos e ao longo de todo este processo, que também se evidenciou e que
se devia ter sido assumido com outra clareza neste Relatório.
O PCP afirmou, desde o início, que não deixaria de contribuir para um relatório que permitisse dar a conhecer
os factos, responsabilidades e implicações deste processo. Apresentámos propostas de alteração que
permitiriam assegurar um relatório mais factual, mais rigoroso e mais consequente.
Por opção, numa primeira fase, do Deputado Relator, representante do BE, e, finalmente, na fase das
votações, por opção do PSD, PS e CDS, a parte fundamental destas propostas foi excluída do Relatório, não só
na parte respeitante às conclusões a retirar deste processo e às responsabilidades que devem ser imputadas,
mas, desde logo, na consideração de matérias importantes desta Comissão de Inquérito.
É de registar que, quer o CDS, quer, particularmente, o PSD, apresentaram, na aprovação do Relatório, uma
versão e uma leitura deste processo que se evidenciou, claramente, como um alinhamento total com a versão
dos grupos económicos do setor, com a EDP à cabeça.
PSD e CDS tentaram omitir…
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, tem de concluir.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Termino, Sr. Presidente.
PSD e CDS tentaram omitir e apagar capítulos inteiros, conclusões inteiras, e chegaram a conseguir, em
convergência com o PS, eliminar praticamente todas as referências à União Europeia.
Não poderemos deixar que se apague a memória e a verdade do que foram os trabalhos desta Comissão de
Inquérito.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Peço aos Srs. Deputados que estão de pé o favor de se sentarem ou de saírem do
Plenário, para podermos prosseguir a reunião nas melhores condições.
Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Hugo Costa.
O Sr. Hugo Costa (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do Partido Socialista
assumiu, nas 212 horas, 55 audições e 61 reuniões que durou esta Comissão Parlamentar de Inquérito, uma
postura dialogante e participativa, uma postura construtiva e sem julgamentos precipitados.
No trabalho desenvolvido, procurámos contribuir para uma análise do sistema electroprodutor,
controvertendo os agentes e dissecando as decisões do passado para que, no futuro, possamos construir
políticas públicas para o setor da energia. Sim, é o futuro que nos interessa.
Começo por referir que, no nosso entendimento, existiram rendas excessivas; contudo, não são sinónimo de
ilegais, como, em muitos momentos, foi demonstrado e colocado no Relatório, pelas propostas do nosso Grupo
Parlamentar.
Neste debate, lutámos contra a deturpação da história, reescrita através de ataques personalizados que
afunilam o debate para fora do que é essencial para os portugueses.
Sublinhamos o empenho que todos os grupos parlamentares depositaram no desenrolar dos complexos
trabalhos, assim como o trabalho do Relator, Presidentes e serviços.
O Partido Socialista faz um balanço positivo desta Comissão Parlamentar de Inquérito, que nos permitiu, por
exemplo, ter conhecimento de relatos que, de outra forma, não conheceríamos, sendo disso ilustrativos os
exemplos do protagonista que admitiu ter sido censurado, ou outros que não conheciam a dimensão do que
tinham aprovado na assunção do seu exercício governamental.
Temos também de ser claros ao afirmar que as decisões têm de ser contextualizadas e datadas, atendendo
às circunstâncias e aos dados históricos disponíveis a cada momento, nomeadamente a maturidade tecnológica.
Esta estratégia permitiu-nos superar uma série de equívocos que, até aqui, eram impulsionados e empolados
no debate público; permitiu-nos atestar que as energias renováveis não são sinónimo de rendas excessivas,
sendo a narrativa que alimentava esta tese destruída nas várias audições, tendo os grupos parlamentares que
enveredaram por esse caminho abandonado as suas certezas.