I SÉRIE — NÚMERO 68
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O Sr. Paulo Rios de Oliveira (PSD): — Mais: nem sequer lhe falei de outras situações graves, como o que
se passa com o financiamento da Lusa. Para o PSD, hoje, não é dia de falar nisso, na próxima terça-feira
teremos um debate em sede de comissão.
Não lhe falei no que se passa na RTP, que também é grave, mesmo grave, e determinou uma deliberação
de toda a comissão para esclarecer algumas coisas relativas à RTP. Não lhe falei disso, hoje não é o momento.
Não lhe falei das trapalhadas do Secretário de Estado que tem a tutela da comunicação social, que,
curiosamente, também faz parte do seu Ministério, mas a Sr.ª Ministra nem faz ideia do que seja.
Aplausos do PSD.
Aliás, as vezes que esse Secretário de Estado aparece nos jornais são mais por causa dele do que por causa
do setor que tutela.
Aplausos do PSD.
Sr.ª Ministra, o PSD vem a este debate em busca de respostas, em busca de boas surpresas. Não temos
respostas nem temos boas surpresas, mas repito as perguntas: Sr.ª Ministra, entende adequado, no conjunto
de apoios que foram dados, em que há uma linha de emergência para aqueles que não tiveram qualquer apoio,
de 1 milhão de euros, reforçável em 700 000 €, haver 15 milhões para a imprensa? Entende que isto é
adequado?
Entende que é adequado apoiar 150 artistas com 1 milhão de euros e ter um valor igual para todos os
demais?
Entende que é adequado o setor livreiro ter 430 000 €, o que dá cerca de 1500 € a cada um, excluindo os
independentes e os que não cumpram critérios muito específicos? O que é que faz àqueles que não cumprem
os tais critérios muito específicos?
Os agentes culturais, hoje, tinham de olhar para o Parlamento e retirar deste debate alguma esperança,
alguma resposta, algo que lhes dissesse que a situação iria mudar, mas eles sabem, hoje, que tudo vai continuar
tão pesado como o silêncio de um cemitério.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, a Sr.ª Deputada Beatriz
Gomes Dias.
A Sr.ª Beatriz Gomes Dias (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Cultura, Sr.as e Srs. Deputados: O debate
que temos hoje é de extrema importância.
O Governo tem falhado na implementação de uma resposta estruturada à crise que tem devastado a vida
dos trabalhadores e das trabalhadoras da cultura.
No momento em que os profissionais do setor reivindicavam a criação de um fundo de apoio de emergência
que garantisse a subsistência face à grande perda de rendimentos, o Governo, ignorando as propostas do setor,
cria a Linha de Apoio de Emergência ao Setor das Artes. Na verdade, esta medida, muito contestada, foi mais
um concurso de apoio a artistas e estruturas, com uma verba manifestamente insuficiente face às necessidades,
e os resultados, como era de esperar, foram muito insatisfatórios. Dos 1025 projetos apenas 311 foram apoiados;
muitos projetos receberam um financiamento muito aquém do solicitado, em alguns casos de 60%, noutros de
50% ou, mesmo, de 25%; e os projetos selecionados ainda não receberam financiamento. A que se deve, Sr.ª
Ministra, este incompreensível atraso na disponibilização das verbas? Está disponível para alargar o número de
estruturas elegíveis para este apoio?
De uma forma discricionária, o circo tradicional foi excluído da candidatura aos apoios no âmbito da
pandemia. Segundo informações disponibilizadas pelo Ministério da Cultura, apenas o circo contemporâneo
estaria abrangido pelos apoios. O Registo Nacional de Profissionais do Setor das Atividades Artísticas, Culturais
e de Espetáculo (RNPSAACE) inclui, expressamente, artistas de circo, não estabelece qualquer distinção entre